João José de Andrade Ferraz
Advogado
de Ofício (como então era designado o cargo), o... patrocinava cada demanda
cabeluda...
Detestava
injustiça, por princípio; secundariamente abominava agiota, banco, penhorista,
receptador e senhorio. Ai daquele que um miserável qualquer lhe batesse à porta
solicitando arrimo: Comia fogo, porque fazia pouca ou nenhuma distinção entre
expedientes legais e inortodoxos para assegurar e/ou resguardar direitos dos
seus constituintes.
“Aprenda,
rapaz! O que realmente interessa é o resultado, não os meios” – gostava de
dizer.
Considerado
o ângulo de tais peculiaridades, era querido e odiado; não exigia recompensas
de agradecidos, e nem se abalava com carantonhas de incidentais desafetos.
Peitudo, ele.
Instantânea
e recíproca simpatia servira para nos aproximar, apesar da marcante diferença
de idade. Tínhamos, evidentemente, conformidade nos gostos; e, logo descobri,
nutria por mim algo parecido com sentimento fraterno – talvez até paternal.
Fique claro que demonstrei agradecimento e retribuição à boa amizade até a
morte dele, que infelizmente assisti.
Noite
de domingo, pouco antes do carnaval de 1970. Depois do horário de noivado
atravessei a Senador Pacheco a fim de bater papo habitual na porta da casa
dele: espreguiçadeiras na calçada, cervejinha, prato com ovos cozidos.
Daí
avistamos casal que vinha descendo pela rua, na altura da Barroso.
- A moça ali não é..., filha do...? O galego,
quem é?
- Ela mesma; não conheço o camarada, não.
Quando
emparelharam, a jovem parou e disse:
-
Boa noite. Doutor..., Ferraz. Quero lhes apresentar o Engenheiro que está
trabalhando no asfaltamento da rodovia que liga Teresina e Picos.
Tendo
levantado primeiro, cumprimentei:
-
Como vai? – estirando a mão.
À
vontade, afundado na cadeira e meio caneado, o
... bufou para se erguer. Ao conseguir deu-se o vexame: desamarrada,
obedecendo à gravitação a calça do pijama caiu-lhe aos pés.
Se
estivesse de cuecas, menos mal: mas estava em pelo!...
* Do livro Apanhados do Cotidiano
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