Daniel Cariello**
Você
está ouvindo a Rádio Brasília, a capital federal em estéreo no seu dial. Aqui,
você também não vê a torre, mas escuta quem a cantou. Começamos a programação
com Água de Beber, de Tom e Vinicius, escrita quando a dupla visitava as obras
da então futura capital do país e descobriu uma nascente perto do Catetinho.
“Eu quis amar mas tive medo. E quis salvar meu coração... Água de beber, água
de beber, camará.”
Muito
bem, continuamos com um passeio cartesiano pelo Plano Piloto, com Little Quail
e Liga Tripa. “Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez,
onze, doze, treze, catorze, quinze, dezesseis. Eu sei que são dezesseis. L2 e
W3, eu sei que são dezesseis.” Rádio Brasília pega melhor do que pardal. “Nossa
Senhora do Cerrado, protetora dos pedestres que atravessam o Eixão às 6 horas
da tarde, fazei com que eu chegue são e salvo à casa da Noélia.”
Você
escutou Dezesseis e Travessia do Eixão. Quando a última foi escrita, ainda dava
para cruzar a via por cima. Hoje, nem pensar! A cidade mudou, mas algumas
coisas continuam iguais. Reparem na letra de Brasília, do álbum de estreia da
Plebe Rude. “Capital da esperança, asas e eixos do Brasil. Longe do mar, da
poluição, mas um fim que ninguém previu. Brasília tem centros comerciais,
muitos porteiros e pessoas normais!”
Tem
porteiros, pessoas normais e muito rock na capital, mas tem reggae também. E
não dá para falar de reggae candango sem fazer ligação com Renato Mattos. “Um
telefone é muito pouco pra quem ama como louco e mora no Plano Piloto. Se a
menina que o cara ama tá pra lá do Gama, mata de desgosto.” Vai uma dica:
Renato, compra um celular, senão fica difícil! Assim como também não é fácil
surfar no lago, como o Natiruts vem tentando, mesmo se as marolas levam longe.
“Eu sou surfista do Lago Paranoá. É meio-dia e eu vejo a seca castigar, 15% é a
umidade relativa do ar.”
Rádio
Brasília, para você ouvir em casa, no carro ou no camelo. Agora, vamos sair do
Plano Piloto e dar uma volta pela periferia, começando com Canção Tema, do
Phonopop. “Tudo o que foi dito está distante? Sim, para o miserável retirante.
Na Santa Maria já pintou asfalto!
Juro
que eu não sabia.” Não sabia, Phonopop? Pois tem mais para descobrir nas
satélites. Deixa o Câmbio Negro te guiar. “Sou da Ceilândia, eu sou mais eu.
Falo, faço e aconteço. Por essa terra tenho apreço.”
Estamos
chegando ao fim da programação de hoje. Vamos ao último bloco, com dois
nordestinos que cantaram a nossa cidade, Alceu Valença e Caetano Veloso. “Se
seu amor foi hipocrisia, adeus, Brasília, vou morrer de saudade. Se seu amor
foi hipocrisia, adeus, Brasília, vou pra outra cidade.” Olha, Alceu, você pode
até deixar Brasília, mas a cidade não te deixa mais. O Caetano vai levar um
presente daqui. “Mas, da próxima vez que eu for a Brasília, eu trago uma flor
do cerrado pra você.”
Obrigado
pela companhia e até a próxima. Rádio Brasília, a capital federal em estéreo no
seu dial. Para ouvir, azarar e amar na W3, no Eixão, na L2, na rodoviária...
*Publicado originalmente em Veja Brasília, de 14.jan.15
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br
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