Daniel Cariello*
O ônibus lotado que levava os
passageiros do avião até o terminal do Santos Dumont deu uma parada para deixar
passar um carrão de filme, escoltado por duas viaturas policiais. Encucado,
perguntei ao condutor.
- Quem vai ali? A presidente?
- Enta.
- O quê?
- É presidenta, o certo.
- Que seja. É a presidenta ali,
seu motoristo?
- Não, é o rei.
- Rei de onde?
- Daqui mesmo. É o nosso Rei
Roberto Carlos.
- Ele desce antes dos outros
passageiros?
- Você tá brincando, né? Ele não
pega vôo comercial. O cara tem o próprio avião particular, aquele ali, ó.
- Gente coisa é outra fina...
- E quando ele vai viajar, o
motorista pára o carrão na entrada da pista e a escolta logo chega para
acompanhá-lo até o jatinho.
- E toda vez a gente tem que
parar para que ele passe?
- Ué, e não tem sido assim há
mais de 50 anos?
Concordei com o raciocínio, tem
mesmo sido assim há muito tempo, minha avó já parava para olhar quando o cantor
aparecia na TV em preto e branco, e alardeava um suposto e distante parentesco:
“Ele é de Cachoeiro de Itapemirim, cidade vizinha à minha Castelo.” Mas
desconcordei do fato de sermos obrigados a aguardar a travessia real para
seguirmos adiante.
- Ainda mais levando em
consideração a produção musical dele dos últimos 30 anos, uma verdadeira
tristeza.
Mas o chofer nem ouviu, estava
entretido assoviando Detalhes, no que acompanhei quando chegou o refrão.
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