sexta-feira, 17 de abril de 2015

ABRAM ALAS PARA O REI



Daniel Cariello*

O ônibus lotado que levava os passageiros do avião até o terminal do Santos Dumont deu uma parada para deixar passar um carrão de filme, escoltado por duas viaturas policiais. Encucado, perguntei ao condutor.
- Quem vai ali? A presidente?
- Enta.
- O quê?
- É presidenta, o certo.
- Que seja. É a presidenta ali, seu motoristo?
- Não, é o rei.
- Rei de onde?
- Daqui mesmo. É o nosso Rei Roberto Carlos.
- Ele desce antes dos outros passageiros?
- Você tá brincando, né? Ele não pega vôo comercial. O cara tem o próprio avião particular, aquele ali, ó.
- Gente coisa é outra fina...
- E quando ele vai viajar, o motorista pára o carrão na entrada da pista e a escolta logo chega para acompanhá-lo até o jatinho.
- E toda vez a gente tem que parar para que ele passe?
- Ué, e não tem sido assim há mais de 50 anos?
Concordei com o raciocínio, tem mesmo sido assim há muito tempo, minha avó já parava para olhar quando o cantor aparecia na TV em preto e branco, e alardeava um suposto e distante parentesco: “Ele é de Cachoeiro de Itapemirim, cidade vizinha à minha Castelo.” Mas desconcordei do fato de sermos obrigados a aguardar a travessia real para seguirmos adiante.
- Ainda mais levando em consideração a produção musical dele dos últimos 30 anos, uma verdadeira tristeza.
Mas o chofer nem ouviu, estava entretido assoviando Detalhes, no que acompanhei quando chegou o refrão.


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