A. J. de O. Monteiro
Quando criança imaginava que as
pessoas haviam nascido assim como as conheci, ou seja: os velhos nasceram
velhos; os adultos nasceram adultos e as crianças nasceram assim e assim
permaneceriam para todo o sempre. Não tinha, então, ideia do fenômeno da vida
como concepção, nascimento, crescimento (no meu caso, não muito) e morte. Não
sei exatamente a que altura da vida tomei consciência da realidade. Talvez com
o nascimento de novos membros na família, principalmente sobrinhos, muitos dos
quais nasceram na casa de meus pais e acompanhei o processo, mesmo com as
restrições impostas às crianças, àquela época. Bem, deixem-me explicar: Família
grande, dezesseis irmãos e eu, o penúltimo da prole, tenho sobrinhos com minha mesma idade.
Fui então passando pelas fases
naturais da vida sem maiores problemas e sem me preocupar com a etapa derradeira
dessa jornada perigosa chamada vida. A tomada de consciência do processo, não
me causou nenhum temor achando que chegaria à velhice – algo sempre muito
distante para mim – sem os achaques frequentemente relatados por aqueles que já
viviam essa fase. E com essa convicção fui ultrapassando as décadas cumprindo
os rituais próprios de cada uma, sem perceber as alterações que o tempo vinha
impondo ao meu organismo. O embranquecimento precoce dos cabelos, encarei como
de caráter hereditário, assim como o concomitante início da calvície,
prenunciada pelo avanço das famosas “entradas” – como se diz, “comendo pelas
beiradas”.
E lá ia eu, tranquilo, jogando
meu futebol de fim de semana, tomando minha cervejinha dia sim, outro também,
até que minha permanência em campo foi diminuindo de tempo, enquanto o
intervalo entre as corvejadas e outras atividades, foi aumentando...
Hoje, já montado nos sessenta,
vou observando o surgimento daqueles achaques dos quais me julgava imune: Às
vezes saio de casa e antes da primeira esquina volto para certificar-me de que
fechei o portão da casa; já desprendo algum esforço para lembrar o nome daquele
amigo do futebol, daquela atriz, daquele filme ou daquela música... Não raro me
flagro nostálgico com saudade daqueles bons tempos, buscando cores, formas e
perfumes tão diferentes dos atuais. É como nos versos finais da música “Bom
Vaqueiro”, de João do Vale: “... Mestre Costa na fazenda/hoje só abre
cancela/mocidade deixou ele/ele também deixou ela/a “veice” montou nele/ele
desmontou da sela”.
A ideia de escrever este texto,
que espero não seja tomado por pessimista, me ocorreu após um pequeno acidente
doméstico: estava eu agachado, reconectando os cabos do computador e periféricos
(adoro este termo) ao estabilizador de força quando, ao terminar a hercúlea
tarefa, no levantar, a coluna sofreu uma “meia trava” e fui de testa contra a parede
sofrendo um pequeno corte, mas que provocou um sangramento desproporcional ao
seu tamanho. Mas, também, nada que uma pressão com gaze e a aplicação de “merthiolate”
e um “band-aid” transparente e respirável não tenham resolvido em dois tempos...
Pelo menos meu processo de cicatrização ainda está bom!
*Tomei
emprestado o termo “envelhescente”, do personagem Oto Mano, criado pelo jornalista
Cláudio Barros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário