quinta-feira, 2 de julho de 2015

LA MAISON DES EX-RICHES*


Daniel Cariello**

Da janela do meu apartamento, vejo dois dos velhos casarões que dominavam Laranjeiras há algumas décadas. Ambos estão agora tombados. Um deles virou um misto de churrascaria e casa de shows e oferece picanhas e apresentações de gosto duvidoso. O outro, me contou um amigo, transformou-se em um asilo para ex-milionários, que reúnem-se ali, semanalmente, para se consolarem mutuamente e lamentar os passados dias de glória. Fiquei imaginando como seria um encontro de dois desses falidos.
- Ei, Paulo! Quanto tempo!
- Paul, por favor, é Paul. Não me chame pelo meu nome de…
- De batismo?
- Não! Sim, de batismo, mas não é o que quero dizer. Esse era meu nome de…
- De pobre?
- Não diga palavras como essa! Me dão alergia. Já começo até a espirrar. Atchim!
- Quer um lenço?
- De papel? Só consigo assoar em um mouchoir Simonnot-Godard! Atchim!
- Désolé, é o que temos pra hoje. E é o último. Vou te dar metade, caso eu precise do resto. A minha situação também não está das melhores, desde meu último divórcio.
- Aquela jararaca deliciosa e 30 anos mais nova levou o que havia sobrado, né?
- É. E justamente agora, quando começava a me convencer de que a felicidade estava nas pequenas coisas. Na minha pequena casa de Paraty, meu pequeno iate em Búzios…
- Tout est parti!
- Tudo. Fiquei na miséria.
- Atchim!
- Desculpe.
- Tudo bem. Não consigo me acostumar a esse universo da pindaíba.
- Mas, afinal, o que aconteceu com seu dinheiro?
- Investi tudo no Eike.
- Ai, que furada!
- Furada mesmo, assim como a minha calça Hugo Boss, bem aqui atrás.
- Deixa eu ver… Olha, na minha opinião, trata-se de um furo de muita classe.
- Obrigado.
- De nada. Na falta de algo melhor pra fazer, estamos aqui pra preencher o vazio uns dos outros, n’est-ce pas?
Nesse momento, o orelhão da rua começa a tocar sem parar. Um dos ex-milionários se levanta para atender. É o antigo sócio de Paulo, avisando que os móveis do escritório serão leiloados para pagar as dívidas restantes.
- Ai, meus sais.
- Tá mais pobre?
- Atchim! Olha o palavreado!
- Pardon.
- Agora quebrei de vez. Preciso urgentemente de uma taça de Dom Pérignon e de um bom foie gras.
- Tô olhando aqui no armário e só sobrou uma Fanta e meio pacote de Piraquê.
- Desce.
- A Fanta é uva, d’accord?
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br

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