Daniel Cariello**
Na Rua das
Laranjeiras tem o Mercado São José, um lugar cheio de bares e restaurantes que
não tem nada de mercado. Não adianta passar ali de manhã, você não vai
encontrar frutas, verduras ou ervas, carne de vaca, de porco, de frango ou
peixe, tapioca, queijo ou café, temperos, pimentas ou flores. Exceção feita aos
dias em que fica um senhor português na porta, vendendo legumes geralmente
murchos.
Na Rua das
Laranjeiras tem o Instituto Nacional de Educação de Surdos, um lindo prédio
antigo localizado em um dos seus pontos mais movimentados, em frente a um sinal
e uma bifurcação, com constantes engarrafamentos e buzinas se sobrepondo umas
às outras, causando um barulho infernal que, ouvi dizer, não atrapalha as aulas.
Na Rua das
Laranjeiras tem uma loja de suco cujos proprietários são chineses que não falam
direito português quando você pede pra trocar o tomate do sanduíche por mais
queijo, mas tornam-se incrivelmente fluentes na hora de apresentar a conta.
Na Rua das Laranjeiras
tem uma nova ciclovia que os ciclistas muitas vezes não podem usar porque está
bloqueada por algum carro que estacionou ali só pra ir à farmácia, coisa
rápida, nem tá atrapalhando, veja bem.
Na Rua das
Laranjeiras tem bancas de jornais e revistas que vendem suco, refrigerante,
pipoca, chocolate, amendoim, chiclete, salgado, sorvete, capa de chuva,
cigarro, chinelo Havaianas, chip de celular e cada vez menos jornais e
revistas.
Na Rua das
Laranjeiras tem uma churrascaria instalada em um casarão antigo que nas noites
de fim de semana serve cantores passados e grupos requentados, acompanhados de
chope.
Na Rua das
Laranjeiras, bem no início, tem o Largo do Machado. Uma praça larga, é verdade,
mas onde nunca vi alguém segurando um machado. Aliás, se visse, mudava de
calçada e ia pra longe da Rua das Laranjeiras.
Na Rua das
Laranjeiras não tem pé de laranja. Nenhum.
* https://www.facebook.com/cartasdaguanabara
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**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris www.cheriaparis.com.br
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