Manoel Emilio Burlamaqui de Oliveira
À
medida que nossa idade muda, mudam nossas atividades, mudam nossas amizades,
mudam os nossos gastos, mudam nossos gostos... E surgem problemas de que,
antes, não nos dávamos conta, normais numa sociedade de consumo, onde o chamado
“poder aquisitivo” delimita os nossos sonhos.
Ao
frequentar o ginasial, dei-me conta de que, a maioria de meus amigos, mais
pobres que eu, ali, não se encontravam. E a tristeza abateu-se sobre mim, ao
constatar que faltava às suas famílias, o dinheiro necessário para as despesas
com seus estudos, já que, nem mesmo o que vestiam e calçavam poderiam ser
chamadas de vestes diversas...
Naqueles
idos, as crianças não diziam “papai, eu te amo, mamãe, eu te amo”, como vejo,
agora, nas novelas de TV. Uma omissão que, ainda hoje, me persegue, um
agradecimento que não lhes fiz pelos sacrifícios que fizeram por mim, uma
vontade de tê-los, novamente, comigo, para lhes dar todas as demonstrações de
reconhecimento e de amor de um filho querido!
Será
justo apequenar nossos sonhos? Teremos que correr atrás do poder aquisitivo
para, depois, sonharmos? Ou deveremos sonhar, para buscar um poder aquisitivo
que possa torna-los realidade? E, se não alcançarmos esse “poder”? Afinal de
contas, como alcança-lo?
Infelizmente,
só sei de duas maneiras para virar Papai Noel: trabalhando duro ou
apropriando-se, indevidamente, do alheio... Uma ou outra maneira possuem
variáveis incalculáveis, dependendo de uma escolha de valores, onde a vontade
de ser e a de ter determinam nossa conduta.
Lembro-me
de um ditado, em pleno desuso, que diz “Quem não rouba, ou não herda, enrica é
merda!” Como, também, que criaram, no início do “Iluminismo”, a apelidada
política de resultados, também aceita e praticada, na atualidade, como
“pragmatismo”, cujo pai, Maquiavel, condenando os princípios éticos e morais,
encontrados por ele na doutrina cristã, ensinava ao Príncipe que qualquer meio
seria correto para o alcance e a manutenção de um poder que unificasse a
Itália, então, dividida em pequenas, mas, ricas repúblicas, com governos
independentes.
No
segundo palco, onde procuro rever a história, estas lembranças surgem com mais
nitidez, ligadas, naturalmente, ao uso da força e da riqueza pelo homem,
julgadas essenciais para o seu crescimento em sociedade, como na economia e
finanças públicas.
Se
minhas amizades, que me deixaram triste e saudoso, por serem engolidas e
separadas, na divisão das classes sociais, desapareceram, a pobreza, ao
contrário, só fez aumentar de lá para cá!
Como? Por quê? Culpa de quem? (continua)
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