sexta-feira, 20 de maio de 2016

O QUE PASSOU, PASSOU? II


Manoel Emilio Burlamaqui de Oliveira

               À medida que nossa idade muda, mudam nossas atividades, mudam nossas amizades, mudam os nossos gastos, mudam nossos gostos... E surgem problemas de que, antes, não nos dávamos conta, normais numa sociedade de consumo, onde o chamado “poder aquisitivo” delimita os nossos sonhos.
               Ao frequentar o ginasial, dei-me conta de que, a maioria de meus amigos, mais pobres que eu, ali, não se encontravam. E a tristeza abateu-se sobre mim, ao constatar que faltava às suas famílias, o dinheiro necessário para as despesas com seus estudos, já que, nem mesmo o que vestiam e calçavam poderiam ser chamadas de vestes diversas...
               Naqueles idos, as crianças não diziam “papai, eu te amo, mamãe, eu te amo”, como vejo, agora, nas novelas de TV. Uma omissão que, ainda hoje, me persegue, um agradecimento que não lhes fiz pelos sacrifícios que fizeram por mim, uma vontade de tê-los, novamente, comigo, para lhes dar todas as demonstrações de reconhecimento e de amor de um filho querido!
               Será justo apequenar nossos sonhos? Teremos que correr atrás do poder aquisitivo para, depois, sonharmos? Ou deveremos sonhar, para buscar um poder aquisitivo que possa torna-los realidade? E, se não alcançarmos esse “poder”? Afinal de contas, como alcança-lo?
            Infelizmente, só sei de duas maneiras para virar Papai Noel: trabalhando duro ou apropriando-se, indevidamente, do alheio... Uma ou outra maneira possuem variáveis incalculáveis, dependendo de uma escolha de valores, onde a vontade de ser e a de ter determinam nossa conduta.
               Lembro-me de um ditado, em pleno desuso, que diz “Quem não rouba, ou não herda, enrica é merda!” Como, também, que criaram, no início do “Iluminismo”, a apelidada política de resultados, também aceita e praticada, na atualidade, como “pragmatismo”, cujo pai, Maquiavel, condenando os princípios éticos e morais, encontrados por ele na doutrina cristã, ensinava ao Príncipe que qualquer meio seria correto para o alcance e a manutenção de um poder que unificasse a Itália, então, dividida em pequenas, mas, ricas repúblicas, com governos independentes.
               No segundo palco, onde procuro rever a história, estas lembranças surgem com mais nitidez, ligadas, naturalmente, ao uso da força e da riqueza pelo homem, julgadas essenciais para o seu crescimento em sociedade, como na economia e finanças públicas.
               Se minhas amizades, que me deixaram triste e saudoso, por serem engolidas e separadas, na divisão das classes sociais, desapareceram, a pobreza, ao contrário, só fez aumentar de lá para cá!
Como? Por quê? Culpa de quem? (continua)

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