quarta-feira, 31 de agosto de 2016

OMISSÃO IMPERDOÁVEL*


João José de Andrade Ferraz

               A turma estava  em preparativos, esperando com ansiedade os finalmente das solenidades de formatura. Em agitada reunião alguém lamento fato que passara despercebido: os convites fornecidos pela Universidade (além de poucos) eram horrorosos.
               Para suprir a carência, atribuíram a mim tal missão – com sutil argumento.
               — Você é amigo do Paulo Henrique (de Araújo Lima), diretor da COMEPI; e essa condição facilitará para pechinchar preço, talvez conseguir envelopes, maior quantidade, essas coisas...
               Pô, logo eu, que não levo o menor jeito pra isso? Mas não podia faltar à promessa, claro.
               Marquei entrevista com o “gráfico”, por telefone, pro outro dia; expus o assunto.
               — Bicho, tá esquecido de que isto aqui não é meu? – foi logo querendo excluir o dele da bisnaga.
               — Não; não estou, não. Mais como sou cliente indireto da empresa há muito tempo, e seu amigo, é que venho a modesta colaboração. Se puder ser, bem; se não puder, pode ir à...
               — Pera aí, vamos com calma. O que foi que você trouxe como subsídio à impressão?
               — Capa e texto.
               Olhou, fez cara de pouco entusiasmo, mas concordou em mandar imprimir mais xis convites por fora do orçamento apresentado – com preço camarada. Estendeu a cooperação, oferecendo:
               — Temos aqui um desenhista craque, capaz de melhorar o aspecto dessa efígie da justiça, cara. Cá pra nós, tá uma droga... — apontando com um lápis. Vou providenciar layout, e mais tarde ligo pra você.
               Deu tudo certo, porém... Todo empolgado, satisfeito, colega foi encarregado de levar o abençoado convite ao Magnifico  Reitor. O professor José Camilo – fumando indefectível charuto – recebeu o envelope, espiou o conteúdo e tranquilamente o devolveu, dizendo ao portador:
               — Pegue, meu caro colega doutor Kleber... Está muito interessante, de muito bom gosto. Só há um senão: quando os vocês doutores se lembrarem de apor o meu nome, mandem-me outro...
               Toda a comissão (de formatura) havia participado da elaboração!
               Quase saiu porrada...

*Do livro Registros de Memória.

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