Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
Esbelta,
corada, vestida com calça comprida de veludo e blusa de seda colorida, calçada
com sapatos salto alto, parecia estar indo para uma festa, ou para um shopping
frequentado por pessoas abastadas, não fosse uma pequena foice que trazia presa
em sua cintura.
Quem
diria, até a antiga senhora aderiu à modernidade, e, não mais assusta os
viventes, que lhe aceitam como inevitável e necessária para que alcancem uma
nova vida, mais cheia de alegrias, de amor, de beleza, que a vivida neste
planeta, com passagens dolorosas, muito trabalho, suor e sangue... Castigado
por querer, o primeiro de sua espécie, criado por Deus, ouvindo a Serpente, ser
maior que o Criador!
Ao
passar por aquela faceirice, eis que ela me chama e exclama: “O garoto de quem
Deus se apiedou e não me deixou leva-lo , quando não tinha , ainda, sete anos! ”Ao
que retruquei”: Dona Morte, como à senhora está bonita”! “E ela:” Meu filho,
nem todos me acham bonita, o que vês em mim de bonito? “Falei – lhe:” A tua
proximidade com ELE, a tua bondade comigo, as tuas lembranças sem mágoas, a tua
missão, que me levará para junto de quem amo, a tua paciência, em me deixar
mais tempo com minha mulher, meus filhos, meus amigos!”“.
“Incrível”
ela tornou, “deparo – me com o resultado de um milagre, que se lembra de tudo,
que ama o dono da vida e da morte, e que, mais, ainda, vive lépido e lampeiro e
me acha bonita!” Pois bem, vou contar – te uma coisa: não sou feia, não sou
bonita, não sou como me pintam... Não tenho idade, e apareço do jeito que me
imaginam, uns, com medo, outros, sem me compreenderem, alguns, sem se
importarem comigo... “Tu me achaste bonita, e, se eu não fosse a Morte e tu um
simples mortal, até que daríamos um par legal...” “Vou seguindo meu destino,
mais tarde, sem dúvida, nos encontraremos”... Fui!
(Um
esclarecimento: A referência ao que me aconteceu aos 7 anos se deve ao fato de
que, em São João do Piauí, o Rio Piauí, apenas com um filete d´água, por falta
de chuvas, formou um balseiro em suas margens, onde as crianças brincavam, e se
jogavam na pouca água que restava, num banho gostoso. Quando vinham as chuvas,
os ribeirinhos queimavam o balseiro , mas o fogo, como nos monturos, era ateado
por baixo. Pois bem, atearam fogo ao balseiro, mas não avisaram às crianças e
eu pulei , sem saber que já estava ardendo, e, arrancado por meu pai, minhas
pernas não tinham mais pele. Fui desenganado pelos médicos, mas, no dia de
Corpus Christi, quando passava Sua procissão, pedi-lhe que não me deixasse
morrer, e, agora, estou contando essa história, testemunhando um milagre
acontecido comigo! Ela será recontada, tim-tim por tim-tim, em outra
ocasião...)
*Editada.
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