terça-feira, 19 de setembro de 2017

UMA PALESTRA AGRADÁVEL *



Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

                Esbelta, corada, vestida com calça comprida de veludo e blusa de seda colorida, calçada com sapatos salto alto, parecia estar indo para uma festa, ou para um shopping frequentado por pessoas abastadas, não fosse uma pequena foice que trazia presa em sua cintura.
                Quem diria, até a antiga senhora aderiu à modernidade, e, não mais assusta os viventes, que lhe aceitam como inevitável e necessária para que alcancem uma nova vida, mais cheia de alegrias, de amor, de beleza, que a vivida neste planeta, com passagens dolorosas, muito trabalho, suor e sangue... Castigado por querer, o primeiro de sua espécie, criado por Deus, ouvindo a Serpente, ser maior que o Criador!
                Ao passar por aquela faceirice, eis que ela me chama e exclama: “O garoto de quem Deus se apiedou e não me deixou leva-lo , quando não tinha , ainda, sete anos! ”Ao que retruquei”: Dona Morte, como à senhora está bonita”! “E ela:” Meu filho, nem todos me acham bonita, o que vês em mim de bonito? “Falei – lhe:” A tua proximidade com ELE, a tua bondade comigo, as tuas lembranças sem mágoas, a tua missão, que me levará para junto de quem amo, a tua paciência, em me deixar mais tempo com minha mulher, meus filhos, meus amigos!”“.
                “Incrível” ela tornou, “deparo – me com o resultado de um milagre, que se lembra de tudo, que ama o dono da vida e da morte, e que, mais, ainda, vive lépido e lampeiro e me acha bonita!” Pois bem, vou contar – te uma coisa: não sou feia, não sou bonita, não sou como me pintam... Não tenho idade, e apareço do jeito que me imaginam, uns, com medo, outros, sem me compreenderem, alguns, sem se importarem comigo... “Tu me achaste bonita, e, se eu não fosse a Morte e tu um simples mortal, até que daríamos um par legal...” “Vou seguindo meu destino, mais tarde, sem dúvida, nos encontraremos”... Fui!
                (Um esclarecimento: A referência ao que me aconteceu aos 7 anos se deve ao fato de que, em São João do Piauí, o Rio Piauí, apenas com um filete d´água, por falta de chuvas, formou um balseiro em suas margens, onde as crianças brincavam, e se jogavam na pouca água que restava, num banho gostoso. Quando vinham as chuvas, os ribeirinhos queimavam o balseiro , mas o fogo, como nos monturos, era ateado por baixo. Pois bem, atearam fogo ao balseiro, mas não avisaram às crianças e eu pulei , sem saber que já estava ardendo, e, arrancado por meu pai, minhas pernas não tinham mais pele. Fui desenganado pelos médicos, mas, no dia de Corpus Christi, quando passava Sua procissão, pedi-lhe que não me deixasse morrer, e, agora, estou contando essa história, testemunhando um milagre acontecido comigo! Ela será recontada, tim-tim por tim-tim, em outra ocasião...)

*Editada.

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