Carlos Alberto Monteiro Falcão
É, parece
que isso tá no sangue mesmo. Essa história toda começou quando uma mocinha de 14 anos, franzina, filha de um respeitado
senhor da capital piauiense se encantou por um caipira do interior do Maranhão,
mais velho, já cuidando da vida. Roubou a donzela quase criança, numa operação
digna dos romances cinema. Ânimos apaziguados,
a colegial foi levada para morar em um bairro da “princesinha do sertão”, naquela época, zona rural, com poucas casas, sem energia
elétrica ou água encanada e praticamente às margens do riacho do Ponte, que é formado nas proximidades da
cidade pelo riacho Inhamum e várias outras nascentes, acima do banho do Tintor.
Muito
diferente de hoje, era um mundão d`água que cortava o bairro, proporcionando
aos moradores vários portos, os quais eram concorridos por banhistas,
pescadores de piabas e lavadeiras com trouxas de roupa. Riacho de águas límpidas e cristalinas, cercado por areia branca, por lajes e pedras que guardavam histórias e
lendas de sucuris e outros monstros das águas. Não deu outra, aquela menina,
que mal tinha deixado as bonecas, entre uma barrigada e outra, se deliciava com
a magia do riacho, tomando banho nas suas águas frias, pescando piabas e mandis.
As iscas eram variadas, desde o arroz cozido, minhocas e até larvas de insetos
removidos do coco babaçu. Toda essa
farra acontecia na maioria das vezes, sem a autorização do Sr. Gonzaga. Isso
foi motivo de muitas desavenças do casal.
Foi nesse
contexto, em uma das barrigadas, que nascemos em casa, como dizia um amigo “em
baixo de mangueira” na quinta da casa grande. Claro que com a ajuda das mãos habilidosas e místicas da
Dona Adelaide, famosa parteira, que morava lá para as bandas da Trizidela. O contato e paixão pelo riacho do ponte foi
inevitável. As tardes se resumiam na
espera impaciente até o corpo “esfriar” por conta do almoço. Enquanto isso, nos
divertíamos derrubando manga de fiapo para nos deliciarmos também à beira do riacho, e depois, momentos de banho e pescaria. Vara colhida no bambuzal da beira
do riacho, linha de náilon 0,25 de um pouco mais que um metro e um pequeno
anzol para pegar piaba. Festa completa. Esse deleite só acabava quando começava
a escurecer. Os olhos já vermelhos e a
as mãos enrugadas de tanto ficar de molho. A briga era garantida... vai ficar
doente! Nada que um bom lambedor feito com mel de abelha tiúba, abundante na
região naquela época, com azeite de pequi, limão e outros componentes guardados a sete chaves pela rezadeira da região. Com
uma infância como essa, é difícil não se apaixonar pelas águas com seus
encantos e mistérios. Reza a lenda que quem foi batizado e bebeu das águas do
riacho do Ponte, nunca esquece Caxias.
Um comentário:
Bons tempos aqueles do Ponte.
Postar um comentário