domingo, 28 de julho de 2019

UMA CRÔNICA PARA O ANTONIO PRATA



                Essa noite, sonhei com o Antonio Prata. E ele me dizia pra escrevermos sobre esse encontro, então, é o que vim fazer aqui. Não que o Antonio Prata seja um grande amigo, nos vimos poucas vezes e o mais correto seria dizer que somos no máximo conhecidos.

                O simples fato de sonhar com o escritor Antonio Prata não me obriga a escrever sobre ele. Anteontem, por exemplo, sonhei com minha querida amiga Maeva e não havia discorrido a respeito, injustiça que procuro reparar nessas poucas linhas. Mas trato é trato e não gosto de descumprir os acordos que travo por aí, mesmo que sejam no mundo dos sonhos.

                Encontrei-me poucas vezes com o Antonio Prata, uma delas em Guadalajara, quando nos topamos na feira do livro e depois dividimos a pista de dança na festa de uma editora, acompanhados de amigos comuns, ao som de um grupo de música um chingón (“muito bom”, para os que não têm a sorte de serem tão fluentes em portunhol quanto eu).

                Em geral, o Antonio Prata não tem nada a ver com meus sonhos, o que minha mulher agradece, e não me recordo de ter esbarrado anteriormente com ele nos planos oníricos. Mas essa noite nos encontramos em uma livraria quimérica e nos aconselhávamos reciprocamente obras que gostaríamos que o outro lesse.

                Não faço ideia do livro que recomendei, até porque o Antonio Prata do meu sonho era um pouco diferente do real e isso me perturbou. Ao invés dos cabelos curtos e pretos, ele ostentava madeixas longas e acinzentadas, à la Jorge Jesus. No entanto, eu sabia se tratar do cronista, e não do treinador do Flamengo, pois conversamos sobre o encontro supracitado, no qual, até onde eu sei, o técnico de futebol não esteve presente.

                Após essa breve confluência astral, o Antonio Prata se transformou em bigodudo e saiu pedalando uma bicicleta alada. Dessa vez, não fiquei atordoado, pois eu mesmo estava deveras imbuído da minha tarefa de regar os livros do lugar. Antes dele decolar, porém, combinamos de escrever sobre nosso encontro, o que estou fazendo nesse momento.

                Não sei se o Antonio Prata vai cumprir sua parte nesse acordo fabuloso, e nem tenho como cobrá-lo por isso, já que ele pode alegar se tratar de um devaneio meu, no que ele teria toda razão. De qualquer maneira, gostaria de deixar aqui o registro desse esbarrão morfético. Pensando bem, talvez fosse bom mandar esse texto também para o Jorge Jesus, só por via das dúvidas.

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