Carlos Alberto Monteiro Falcão
Pescaria no Maranhão é sempre muito animada e farta.
Uma dessas lá pras bandas da "Pedra ", no rio Grajaú, deu o que
falar. Nessa aventura fomos eu,
Penha, André Cachorrão, Expedito do quiosque e Wilian da Porrinha, apelido
conquistado por ser o campeão da modalidade “esportiva” no seu bairro lá da
Ilha. Desses, o Penha era o pescador
profissional, dono das tralhas da pescaria enquanto que o Wilian era o estreante
e como o rio tinha fama de ter muitas arraias, ele se preparou... foi na
feira da pedra e comprou um par de botas de couro cru.
Lá fomos nós, na estrada da Lagoa Grande.
Nosso transporte foi o fuscão branco do Wiliam e como trilha sonora, lambada do
Beto Barbosa... é que o carango era equipado com um toca-fitas Pionner dourado,
comprado de um ambulante que trazia por encomenda da zona franca de Manaus e
uma fita k7 de lambadas estava travada no aparelho há mais de 6 meses.
Só tocava ela. Expedito, o mais empolgado, já falava em acender o
fogo para preparar os peixes. Após quase 10 léguas de estrada de chão, cruzando
pequenos povoados e muitos igarapés, chegamos finalmente rio.
O sol já aparecia e o seu reflexo fazia
com que a águas barrentas do rio brilhasse como ouro, nos proporcionando
um belo espetáculo, renovando as nossas energias para a semana de trabalho.
No verão o Grajaú torna-se um rio com pouca água e nessa época podemos
caminhar praticamente em toda a sua extensão, claro que, com muito cuidado por
conta das arraias. Mestre Eliezer, pescador local já nos esperava
com uma canoa de madeira que serviria para levar material de pesca, mantimentos
e os peixes capturados rio acima até a sua casa, que servia de rancho. No
seu trajeto, rio formava poços nas "pauzadas" onde tinham arvores
caídas. Neste locais os peixes se protegiam. Alguns de nós seguravam as
redes cercando o poço enquanto outros faziam a "batida" na galhada. O
pobre peixe se assustava e ia direto para a rede. Íamos caminhando no
leito do rio até a próxima pauzada. Essa caminhada era sempre um risco.
Mestre Eliezer alertava. " arrastem os pés! Cuidado com as raias". E
assim fazíamos.
Chegamos ao rancho. Um lugar encantado, com uma
praia de areia branquinha e brilhante, que se estendia a quase todo o leito do
rio, ótimo para tomar banho, refrescar e revigorar as forças. O sol estava
sobre a nossas cabeças, indicando que era hora do almoço. Expedito foi logo cuidando
do fogo e Wilian da porrinha, já sem as super-botas de couro, aproveitou para
aprender a jogar tarrafa. O pescador de primeira viagem fazia arremessos de
cima de um tronco de palmeira e num dos diversos arremessos, deslizou do tronco
molhado e teve que apoiar o pé na água e, por azar, pisou em uma pequena arraia.
Imaginem o tamanho do berro! Foi aquela comoção! Nem esperamos pelo
almoço... o colocamos canoa, com o pé para cima e enquanto as lágrimas desciam
pelo canto do olho, Mestre Eliezer conduziu a canoa. Todos fomos caminhando
pela margem do rio até o local onde ficou o fuscão. André puxou o máximo do
fusca na estrada de chão, enquanto ouvíamos "adocica " e como
segunda voz, os gemidos do Wiliam da porrinha.

Nenhum comentário:
Postar um comentário