sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

"SORTE" DE PRINCIPIANTE



Carlos Alberto Monteiro Falcão

Pescaria no Maranhão é sempre muito animada e farta. Uma dessas lá pras bandas da "Pedra ", no rio Grajaú, deu o que falar.  Nessa aventura  fomos eu, Penha, André Cachorrão, Expedito do quiosque e Wilian da Porrinha, apelido conquistado por ser o campeão da modalidade “esportiva” no seu bairro lá da Ilha.  Desses, o Penha era o pescador profissional, dono das tralhas da pescaria enquanto que o Wilian era o estreante  e como o rio tinha fama de ter muitas arraias, ele se preparou... foi na feira da pedra e comprou um par de botas de couro cru.
Lá fomos nós, na estrada  da Lagoa Grande. Nosso transporte foi o fuscão branco do Wiliam e como trilha sonora, lambada do Beto Barbosa... é que o carango era equipado com um toca-fitas Pionner dourado, comprado de um ambulante que trazia por encomenda da zona franca de Manaus e uma fita k7 de lambadas estava travada no aparelho há mais de 6 meses.   Só  tocava ela.  Expedito, o mais empolgado, já falava em acender o fogo para preparar os peixes. Após quase 10 léguas de estrada de chão, cruzando pequenos povoados e muitos igarapés, chegamos finalmente rio.
O sol já  aparecia e o seu reflexo fazia com que a águas  barrentas do rio brilhasse como ouro, nos proporcionando um belo espetáculo, renovando as nossas energias para a semana de trabalho.
No verão o Grajaú torna-se um rio com  pouca  água e nessa época podemos caminhar praticamente em toda a sua extensão, claro que, com muito cuidado por conta das arraias.  Mestre Eliezer, pescador local já nos esperava com uma canoa de madeira que serviria para levar material de pesca, mantimentos e os peixes capturados rio acima até a sua casa, que servia de rancho.  No seu trajeto, rio formava poços nas "pauzadas" onde tinham arvores caídas. Neste locais os peixes se protegiam.  Alguns de nós seguravam as redes cercando o poço enquanto outros faziam a "batida" na galhada. O pobre peixe se assustava  e ia direto para a rede. Íamos caminhando no leito do rio até a próxima pauzada. Essa  caminhada era sempre um risco. Mestre Eliezer alertava. " arrastem os pés! Cuidado com as raias". E assim fazíamos.
Chegamos ao rancho. Um lugar encantado, com uma praia de areia branquinha e brilhante, que se estendia a quase todo o leito do rio, ótimo para tomar banho, refrescar e revigorar as forças. O sol estava sobre a nossas cabeças, indicando que era hora do almoço. Expedito foi logo cuidando do fogo e Wilian da porrinha, já sem as super-botas de couro, aproveitou para aprender a jogar tarrafa. O pescador de primeira viagem fazia arremessos de cima de um tronco de palmeira e num dos diversos arremessos, deslizou do tronco molhado e teve que apoiar o pé na água e, por azar, pisou em uma pequena arraia. Imaginem o tamanho do berro!  Foi aquela comoção! Nem esperamos pelo almoço... o colocamos canoa, com o pé para cima e enquanto as lágrimas desciam pelo canto do olho, Mestre Eliezer conduziu a canoa. Todos fomos caminhando pela margem do rio até o local onde ficou o fuscão. André puxou o máximo do fusca na estrada de chão, enquanto ouvíamos   "adocica " e como segunda voz, os gemidos do Wiliam da porrinha.

Nenhum comentário: