Daniel Cariello*
Estão
todas e todos convidados para a minha comemoração dos 60 anos de Brasília. Ela
já está acontecendo. Vão tocar os artistas brasilienses que mais gosto, na
ordem que você decidir, começando quando quiser, mas de preferência ainda hoje,
21 de abril de 2020, quando a capital federal completa 6 décadas.
Eu
havia me planejado para estar aí, na minha cidade natal, mas, vocês entendem,
não é possível nesse momento. E como não há festa oficial, cada um faz a sua
onde preferir. A minha está acontecendo agora, dentro desse texto, em palcos
imaginários. Tragam o que forem consumir e sejam bem-vindos.
No
palco na cervejaria Criolina está o Hamilton de Holanda, um dos músicos mais
impressionantes que já tive a sorte de ouvir. Com sua cabeleira black e pose de
rock star, Hamilton pode tocar chorinho em duo, fazer jazz em quinteto,
comandar um baile com quinze músicos ou se apresentar solo, acompanhado apenas
de seu bandolim de 10 cordas. O que ele terá preparado para uma ocasião tão
especial?
No
Mané Garrincha, vocês não vão acreditar, temos a Legião Urbana, com presenças
confirmadas do cantor Renato Russo e do baixista Renato Rocha. E participação
especialíssima de Cássia Eller. Não me pergunte como isso é possível, não é o
momento de buscar explicações. Também não pergunte à banda, Renato Russo pode
ficar contrariado e desaparecer de vez. Apenas aceite a sorte e corra para não
perder a abertura com a Plebe Rude.
A
comemoração dos 60 anos de Brasília continua no palco minúsculo daquele
inferninho, muito parecido com o Gate’s Pub, no qual se alternam bandas
independentes: dos anos 80, Escola de Escândalos e Tonton Macoute; dos 90,
Maskavo Roots e Oz; dos 2000, Suíte Super Luxo e Phonopop (na qual toquei, e
estou mesmo legislando em causa própria, também quero me apresentar na minha
festa, oras); e dos anos 2010, Rios Voadores e Boogarins, que eu não poderia
deixar de chamar, mesmo sendo da vizinha Goiânia.
Se
você preferir outros ares e sons, tem uma roda de samba comendo solta na praça
Noel Rosa, no Setor Comercial Sul. A base é o Batucada de Bamba, mas a mesa
está crescendo sem parar. Já chegaram o violonista Alencar Sete Cordas, o
compositor (e dançarino) Carlos Elias, as cantoras Alessandra Terribili e
Ligiana Costa, o Nelsinho, o Ian, a Gabriela, o Serginho, o Pacheco, a Helena,
o Rogério, o Cacá e, é claro, o Eliseu, que trouxe novamente para os músicos a
deliciosa cachaça que produz em Minas. Dizem que pode causar alucinações.
Tem
também uma pista de dança comandada pelo Fernando Rosa, a.k.a. Senhor F, no Eye
Patch Panda. O Fernando pode fazer um set só de música amazônica, ou só de rock
psicodélico, ou de bandas latino americanas desde os anos 50. Ou misturar isso
e muito mais, sempre surpreendendo e colocando todo mundo para dançar e
conhecer novos sons.
Querendo
dar uma pausa para os ouvidos, a sala Villa-Lobos foi finalmente reaberta. Hoje
tem a maratona dos Melhores do Mundo, apresentando todas as suas peças, uma
depois da outra. Não sei também como é possível. Melhor perguntar pro Welder ou
pro Pipo (correndo o sério risco de ser levado para o palco e obrigado a pagar
mico na frente do teatro lotado).
A
festa está bombando! Também, não é todo dia que a capital se torna sexagenária,
merece muitas comemorações à altura. Minha homenagem já virou nossa, pode
trazer os amigos e os instrumentos. Veja, tem mais um palco montado bem ali no
Teatro Garagem, aberto para quem chegar e cantar, tocar, falar, fazer o que
quiser.
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Esse texto é o quarto da série "Crônicas
isoladas", que continuará durante a quarentena.* Daniel Cariello é escritor. Foi cronista de veículos como Veja Brasília, Le Monde Diplomatique Online e Revista Pix. É autor de Chéri à Paris e Cidade dos Sonhos.
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