Carlos Alberto Monteiro Falcão
Das muitas lembranças de infância
em Caxias, me marcou bastante o festejo de São Benedito. Uma das festas
religiosas mais importantes da “Princesinha do Sertão”, que acontece até os
dias atuais no mês de agosto na praça Vespasiano Ramos, antigo “Largo de São
Benedito”. Localizada na região do
centro histórico, para chegarmos até a praça, precisávamos passear pelas ruas curvas,
estreitas e de calçamento irregular, contemplando as construções Coloniais do
século XIX.
Na praça, os casarões com fachadas altas
conjugadas nos chamavam a atenção pelas grandes portas de madeira de duas
folhas, sempre abertas e limitadas por cancelas que permitiam visualização de
parte dos corredores. Nesses corredores poderíamos ver os maravilhosos pisos de
lajotas ou ladrilhos da época. Além dos
casarões, a praça era cercada por oitizeiros enormes e seculares. De forma imponente, a igreja construída no início
do século XIX, até hoje se destaca-se pela preservação de parte do seu acervo,
sendo um dos locais que não podem ficar de fora em uma visita a Caxias.
Era nesse cenário que
participávamos do tão esperado festejo de São Benedito. Mal a festa junina acabava,
já começava a expectativa para chegar o dia 17 de agosto, dia do começo do
festejo. A expectativa era compartilhada
por toda a escadinha de irmãos lá de casa. Pela tenra idade, obviamente o
interesse maior não era pela celebração religiosa mas sim a diversão do
pós-missa. As barracas dos mais diversos jogos e brincadeiras, claro que nenhum
deles utilizava os recursos atuais de telas e informática. Eram jogos de
lançamento de argolas, tiro ao alvo com rolhas de cortiça e pescaria.
Normalmente tinha um daqueles parquinhos
com carrossel, montanha russa e mais alguns brinquedos... tudo muito simples,
bem diferente dos parques atuais. Tudo para o deleite da garotada que fazia
fila. Alguns iam para o festejo por conta das guloseimas... banquinhas vendendo
cana de açúcar cortada em rodelas e espetadas em varinhas de bambu, laranjas e
comidas típicas do Maranhão, principalmente o mingau de milho.
O que mais me encantava era o
algodão doce. Com uma bicicleta totalmente adaptada, o moço girava a manivela, ia
adicionando o açúcar e como um passe de mágica o algodão ia se formando...
poderia ficar a noite inteira olhando a habilidade dele preparando o doce, se
não fosse a magia dos balões. Ah os balões! Balões coloridos, de vários tamanhos e formas.
Para quem não conhece a cultura maranhense e piauiense, chamamos de balão o
que, em outras regiões, chamam de bexiga. No festejo ele só tem valor se for cheio
com gás hélio para poder voar... Ficávamos horas observando o vendedor enchendo
os balões com rapidez e maestria. Quando um ou outro balão cheio escapava e subia,
viajava com ele a nossa fantasia infantil.
— Será onde vai parar?
— Acho que vai chegar nas nuvens!
— Não, vai continuar subindo e,
quando amanhecer, vai “pipocar” quando chegar perto do sol!
Era óbvio que a nossa mãe não permitia que fôssemos
todos os dias, apenas dois ou três dias em todo festejo e sempre o último dia
era o mais esperado. O dia de comprar o
balão. Era uma verdadeira operação de
guerra para evitar que os “moleques” estourassem os balões. É que a garotada
também se divertia estourando os balões com instrumentos perfurocortantes, ou
arremessando bandas de laranja chupadas. O importante era dar boas risadas
acabando com a alegria dos outros.
Iam conosco, a Dadá e a Maria do Carmo. Enquanto
uma delas fazia a compra, a outra tratava de afastar a molecada que se
aproximava, às vezes ameaçando até dar uns trancos em quem se atrevesse à tal
perversidade. Assim íamos descendo as
ruas da cidade, numa mistura de euforia por ter um balão atado ao punho e a
tensão pela possibilidade de perder a maior joia do festejo. Quando chegava em casa, era só alívio e
felicidade... A noite era longa, só dormíamos quando o cansaço vencia a euforia,
já bem tarde da noite, com os balões amarrados nos punhos das redes.
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