sábado, 20 de junho de 2020

A VOLTA DO VELHO DRIVE-IN



Juana Lucini*

                Quando os vinis voltaram à ativa, super valorizados, depois de termos vendido todos os nossos bolachões a preço de banana no fim dos anos 90, já devíamos ter percebido a não menosprezar nossos objetos e símbolos ditos antigos e sem volta…
                Em 2020, uma pandemia global nos atingiu, e por sorte tínhamos um cine drive-in na cidade de Brasília, o último da América Latina. Igualzinho aos filmes dos anos 60, assim desde a construção de Brasília. Com a exceção do vizinho vultuoso, o novo Estádio Nacional.
                Prontamente os candangos, de todas as classes sociais e estigmas, para lá correram com seus filhos, sem outra alternativa de entretenimento. Foi o primeiro grande evento pós confinamento. Eu também para lá fui, como natural daqui, apresentá-lo para minha pequena de 4 anos.
                Algo que chama a atenção de todos que lá chegam, desavisados, é a mania dos locais de acessar o porta malas para assistir aos filmes. Manobras, marcha ré, colchões, cobertores, edredons, travesseiros, às vezes há mais utensílios do que num acampamento. Algumas pessoas ensaiaram até tirar cadeiras de praia do carro. Não contavam com o bedel de bicicleta, que os inibiu. A regra é que todos permaneçam dentro do carro e usem máscaras para ir ao banheiro, se necessário. O acampamento só pode ocorrer dentro do carro. A liberdade é ainda restrita. As coisas ainda não são 100% iguais. Ainda é um drive-in nos anos 2020.
                Eu, que só abaixo, um pouco inclusive, a cadeira do carro, e me sinto confortável, acabo me sentindo desconfortável com tamanha singeleza em meio aos SUVs incrementados. Pés acima do painel, pipoca feita na panela, com manteiga derretida no fogo, porque algumas coisas têm que permanecer as mesmas.
                Desde então, muitos cine drive in adaptados tem ressurgindo no mundo. Muitos em aeroportos adaptador, já que agora fechados ou com fluxo diminuídos. O aeroporto de Brasília é um deles, e agora temos dois outros cines em funcionamento na cidade. Mas nenhum com tamanho charme…

*Do Clube de Leitura da Quarentena – CL 40

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