Juana Lucini*
Quando
os vinis voltaram à ativa, super valorizados, depois de termos vendido todos os
nossos bolachões a preço de banana no fim dos anos 90, já devíamos ter
percebido a não menosprezar nossos objetos e símbolos ditos antigos e sem
volta…
Em
2020, uma pandemia global nos atingiu, e por sorte tínhamos um cine drive-in na
cidade de Brasília, o último da América Latina. Igualzinho aos filmes dos anos
60, assim desde a construção de Brasília. Com a exceção do vizinho vultuoso, o
novo Estádio Nacional.
Prontamente
os candangos, de todas as classes sociais e estigmas, para lá correram com seus
filhos, sem outra alternativa de entretenimento. Foi o primeiro grande evento
pós confinamento. Eu também para lá fui, como natural daqui, apresentá-lo para
minha pequena de 4 anos.
Algo
que chama a atenção de todos que lá chegam, desavisados, é a mania dos locais
de acessar o porta malas para assistir aos filmes. Manobras, marcha ré,
colchões, cobertores, edredons, travesseiros, às vezes há mais utensílios do
que num acampamento. Algumas pessoas ensaiaram até tirar cadeiras de praia do
carro. Não contavam com o bedel de bicicleta, que os inibiu. A regra é que
todos permaneçam dentro do carro e usem máscaras para ir ao banheiro, se
necessário. O acampamento só pode ocorrer dentro do carro. A liberdade é ainda
restrita. As coisas ainda não são 100% iguais. Ainda é um drive-in nos anos
2020.
Eu,
que só abaixo, um pouco inclusive, a cadeira do carro, e me sinto confortável,
acabo me sentindo desconfortável com tamanha singeleza em meio aos SUVs
incrementados. Pés acima do painel, pipoca feita na panela, com manteiga
derretida no fogo, porque algumas coisas têm que permanecer as mesmas.
Desde
então, muitos cine drive in adaptados tem ressurgindo no mundo. Muitos em
aeroportos adaptador, já que agora fechados ou com fluxo diminuídos. O
aeroporto de Brasília é um deles, e agora temos dois outros cines em
funcionamento na cidade. Mas nenhum com tamanho charme…
*Do Clube de Leitura da
Quarentena – CL 40
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