quinta-feira, 16 de julho de 2020

CLEVELAND



Juana Lucini

                Uma amiga me disse que eu gosto de reviver histórias passadas, que eu ressuscito fantasmas e eu acho que ela está certa. Conhecer Cleveland faz parte desse princípio.
                Eu conheci o Jake há 14 anos num dos desertos de Israel. Tínhamos 26 anos. Agora, com 40, eu acabei alugando um carro para comemorar o aniversário de 40 anos dele em sua cidade natal. Eu escutei tanto dessa cidade ao longo dos anos que achei a proposta interessante. De toda forma, eu não viajei aos EUA para isso, eu só estava a 5 horas de distância.
                Eu encontrei um homem que se desacostumou ao contato humano. Eu achei que faltava só chegar aos poucos e ir criando de novo a elasticidade. Mas depois eu encontrei um homem materialista “por favor, não use esses copos que são relíquia” “nossa, por favor não use meu lençol de linho, é muito caro caso algo aconteça”. A juventude faz diferença e as circunstâncias que nos conhecemos era de puro deleite momentâneo.
                Mas como a vida não é feita de simples dicotomias, houve também vontade de ficar junto, generosidades, vontade de me mostrar o que é importante para ele, o que é basicamente a sua cidade e as comidas disponíveis ali, mas enfim, de compartilhar seu mundo.
                Cleveland é uma típica cidade americana, você depende de carro, as lojas são enormes, não deve ser difícil fazer distanciamento social dentro delas. Há cinquenta lojas iguais em cada metro quadrado, o que não faz muito sentido se você pensa que as pessoas sempre andam de carro. O usual também é passar de carro dentro de um drive thru para pegar comida, o famoso fast food, e depois lotar seu enorme lixo de descartáveis como se o aquecimento global e a sustentabilidade não fossem temas correntes.
                Mas a cidade é charmosa no inverno, fica quase sempre toda branquinha e tem uma montanha com restaurantes charmosos para comer como se fosse uma escapada de fim de semana. Mas tudo fica pertinho. Eu também escutei diversas vezes que o homem mais rico do mundo é de lá e prédios associados ao tema. Há a parte mais pobre da cidade, também mais histórica e interessante, na minha opinião.
                Um grande ícone que deve levar muitos turistas específicos à cidade é o Rock´n´roll Hall of Fame. Um prédio interessante, maior por fora do que interessante por dentro, mas que é longe de tudo e mesmo indo de carro requer alguma caminhada. Claro que eu me maravilhei com o vestuário dos meus ícones preferidos e celebrei o fato do Pearl Jam agora fazer parte do seleto grupo.
                A cidade também é palco de um famoso museu de arte, este com entrada gratuita e com passeios noturnos, muito frequentado por casais. Eu fiz lá passeios por vários dias para contemplar Mirós e Picassos. Mas a parte que eu gostei mesmo foi de arte egípcia. Havia tanta coisa, linda e roubada.
                Eu gostei da fria Cleveland. Mas se eu voltar vai ser para ir às Niágara Falls.

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