Veridiana Negrini
Todo
dia acordar, descer nove andares, pegar o jornal na portaria, na volta tirar o
chinelo, tomar um banho de desinfetante em spray, tirar e lavar a máscara e
havaianas, tirar a luva, para daí, após 15 minutos que passou o desinfetante no
jornal e em você, sentar para ler as novidades.
Durante
o dia o tempo é dividido para cuidar da casa, acompanhar as aulas e lições da
filha remotamente e trabalhar, para enfim chegar à noite e após os términos dos
cuidados e afazeres, e de todos dormirem, ela ter um momento só dela. E nesses
momentos só dela, conseguir ler, ver filmes e séries, ver as redes sociais, e
ultimamente, encontrou um scape de hora marcada, quando ela sente que o dia não
foi bom, descobriu uma live diária que entra para ouvir músicas e dar boas risadas.
A
live já ficou famosa, saiu em jornais, revistas e programas de tv, e
diariamente em torno de 1500 pessoas se reúnem ali para ouvir músicas e
interagir. O pico de participações na live foi com aproximadamente13 mil pessoas, salvo engano,
e já contou com participações especiais de Chico, Caetano, Paulinho da Viola,
Gil, Lula, Haddad, entre outros. É uma live de resistência e afeto, rola
karaokê, paquera na fila do banheiro, desabafo político, vida cotidiana de
artistas, e muita música, tudo isso na casa da anfitriã Teresa Cristina.
Este
é o novo cotidiano que já dura mais de cento e dez dias, uma rotina de
confinamento, de distanciamento social que horas é quebrado por uma ida ao
mercado, que também tem um momento repentino de prazer, seguido do drama, da
saga, da limpeza pós mercado. Cotidiano este que também se tornou marcado pelas
notícias diárias do descaso e a ausência de prioridade no cuidado com as vidas
em prol do cuidado com o capital, e de encontros com artistas diversos em
shows, peças, livros e filmes que você acessa quando quiser e como quiser, para
ter estes momentos de descontração, reflexão, e diversão.
Por
mais que este seja o novo cotidiano, a vontade que este seja um breve esboço,
que logo mais se possa apagar, e reescrever tudo de novo, mas desta vez um
cotidiano marcado pelos abraços e não apenas pelos olhares.
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