quinta-feira, 16 de julho de 2020

SANTA TEREZA



Juana Lucini

                       A casa das minhas férias, diferentes casas,  sempre em Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
                As férias na casa do Leonardo corresponderam também à primeira vez que eu viajei sozinha de avião. Eu me sentia adulta e importante, mas havia uma barreira no meio do caminho da minha potência, a escadaria do morro de Santa Teresa.  Fomos pouco à praia, e eu tinha receio de subir as famosas escadas infinitas e coloridas que dão acesso ao morro. Como meu irmão não tinha carro, a cada passeio, uma hora subindo. Parávamos e sentávamos, conversávamos muitas vezes nessa subida. A cada degrau, um degrau a mais na nossa intimidade. A escalada era também uma construção, a grande memória das férias nessa enorme casa na beira do morro.
                Teve outra casa, com três andares, mas nessas férias eu estava com meus pais. Tínhamos carro e fomos todos os dias à praia. A escada de referência passa a ser a que levava ao terceiro andar, onde tinha um quartinho que dormíamos e um terraço onde lavávamos roupas. Para uma garota do Plano Piloto de Brasília, acostumada a apartamentos, aquele céu imenso que as secava  era também um conceito novo. Eu gostava de observar os vestidos vermelhos, brancos e azuis sendo balançados pelo vento e acarinhados pelo sol. Quanta luz e água há no Rio de Janeiro!
                E teve o apartamento pequeno do Daniel, nas primeiras férias de universitária. Os móveis eram caixas de papelão ao contrário. Uma caixa grande, a mesa, e quatro caixas menores, as cadeiras ao redor. O único eletrodoméstico era uma geladeira. Dentro dela só havia chá mate – de diferentes fontes. Um tipo, feito de pó solúvel e misturado numa grande jarra. Outra garrafa, industrializada com limão. Outro ainda, feito das folhas. A principal diversão dessas férias foi o fusca do meu irmão. Ele tinha um problema para ligar, então ele ficava sempre estacionado de maneira bem posicionada na ladeira. Eu o empurrava, meu irmão, posicionado ao volante, o pegava no tranco… e eu saía correndo para pular no banco do passageiro, e assim descíamos sorrindo e cantando o samba que tocava no toca-fitas, por sinal com um papelão para o mal contato. Santa Teresa é movimento, diversão.


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