Juana Lucini
A
casa das minhas férias, diferentes casas, sempre em Santa Teresa, no Rio
de Janeiro.
As
férias na casa do Leonardo corresponderam também à primeira vez que eu viajei
sozinha de avião. Eu me sentia adulta e importante, mas havia uma barreira no
meio do caminho da minha potência, a escadaria do morro de Santa Teresa.
Fomos pouco à praia, e eu tinha receio de subir as famosas escadas
infinitas e coloridas que dão acesso ao morro. Como meu irmão não tinha carro,
a cada passeio, uma hora subindo. Parávamos e sentávamos, conversávamos muitas
vezes nessa subida. A cada degrau, um degrau a mais na nossa intimidade. A
escalada era também uma construção, a grande memória das férias nessa enorme
casa na beira do morro.
Teve
outra casa, com três andares, mas nessas férias eu estava com meus pais.
Tínhamos carro e fomos todos os dias à praia. A escada de referência passa a
ser a que levava ao terceiro andar, onde tinha um quartinho que dormíamos e um
terraço onde lavávamos roupas. Para uma garota do Plano Piloto de Brasília,
acostumada a apartamentos, aquele céu imenso que as secava era também um
conceito novo. Eu gostava de observar os vestidos vermelhos, brancos e azuis
sendo balançados pelo vento e acarinhados pelo sol. Quanta luz e água há no Rio
de Janeiro!
E
teve o apartamento pequeno do Daniel, nas primeiras férias de universitária. Os
móveis eram caixas de papelão ao contrário. Uma caixa grande, a mesa, e quatro
caixas menores, as cadeiras ao redor. O único eletrodoméstico era uma
geladeira. Dentro dela só havia chá mate – de diferentes fontes. Um tipo, feito
de pó solúvel e misturado numa grande jarra. Outra garrafa, industrializada com
limão. Outro ainda, feito das folhas. A principal diversão dessas férias foi o
fusca do meu irmão. Ele tinha um problema para ligar, então ele ficava sempre
estacionado de maneira bem posicionada na ladeira. Eu o empurrava, meu irmão,
posicionado ao volante, o pegava no tranco… e eu saía correndo para pular no
banco do passageiro, e assim descíamos sorrindo e cantando o samba que tocava
no toca-fitas, por sinal com um papelão para o mal contato. Santa Teresa é movimento,
diversão.

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