sábado, 5 de setembro de 2020

LAURA,



Marcelo D'Alencourt

Acordei cedo hoje pra reunião (chatérrima!) do trabalho que não suporto mais. Quanta hipocrisia naquela gente. Desfile de vaidades. Fazer o quê? Será que trouxe tudo? Corro pra atravessar o sinal, mas ele fecha. Que saco! Logo agora! Abro a bolsa, tiro o batom e começo a me maquiar. Penso em tudo que tenho pra fazer. Ufa, dá até tristeza, mas vamos lá: fazer compras, levar a criança ao médico, almoçar com a amiga em deprê, trabalhar pra burro e ainda ficar bonita e exuberante pro encontro sem graça com os amigos do marido. Pqp! E o homenzinho verde que não aparece no sinal (até nisso a sociedade é machista!). Aproveito pra me ajeitar. Confiro os brincos, blusa, saia que me aperta (engordei, Deus!) e saltinho básico que está nas últimas. Só não pode quebrar hoje porque aí é sacanagem...O celular toca. É o chefe. Pergunta sobre a reunião. Sabe nada! Digo que está tudo ok (espero!) e ele diz pra eu correr e chegar logo pra batermos a pauta. Mentira. Sempre cheio de más intenções. Olha de novo pro semáforo (ih, apaulistei agora rs) e...nada! Os carros começam a buzinar. Pergunto ao guarda quanto tempo o maldito fica fechado. Ele responde com desdém: "Sei lá, dona!" Vai abrir. Ufa. Triiiiiiiim. Telefone de novo. Atendo. Hã?!? Não acredito nisso! A empregada está doente e não virá hoje. C... O que será de mim? A criança vai ficar com quem? Respiro. Penso. Sem solução. Guardo o molecular e resolvo atravessar a rua. Não!  Fechou de novo! Ninguém merece isso!

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