Marcelo D'Alencourt
Faz tempo. Foi em Itaipu,
Niteroi. Acordei cedo. Tomei um reforçado café da manhã e parti pra praia com a
Mônica. O mar estava bem alto mas não era ressaca. Aliás, ressaca mesmo, vi
poucos encararem. No meu grupo de adolescência, tinha um: Marcelão. Entrava em
qualquer mar. Era o terror dos salva-vidas. Chegávamos à praia, mar alto e logo
vinha um deles: "Hoje, não dá. Se entrar, vai morrer. Não vou te
salvar". Marcelão desdenhava com os ombros e dizia: "Tô nem aí. Me
garanto". E ia. Sem medo. Entrei e encarei vários mares com amigos. Alguns
bem altos com o "Aquaman" de Laranjeiras. Certa vez cheguei bem perto
da eternidade. Resolvi descer numa onda no jacaré básico que era meu forte.
Quando olhei pra trás, a famosa e temida "sequência". Ou sequências
rs. Várias enormes ondas. Você tem duas opções: recua, reza e toma fortíssimo
na cabeça ou encara e se salva corajosamente. Sempre optei pela segunda. Só que
dessa vez, me ferrei. Tomei uma, duas e três paredes no coco. Quase desfaleci
imerso na água. Recuperei as forças e consegui voltar à superfície, rezando pra
não ter mais uma onda. E não tinha. Deus me aliviou legal ali em Copa. Não era
minha hora. Marcelão lá no fundo ria: "Corajoso, hein, quase se f..."
Bem, conto isso porque, voltando a Itaipu, resolvi encarar como sempre o mar
bem alto. Era normal pra mim isso. Tinha 38 anos e nadava 3 km, 4 vezes por
semana, além de ter feito polo aquático na juventude. Tudo sob controle. Fiz o
diabo nesse dia. Desci nos paredões, peguei tubos homéricos, bati no chão com
força, mas tudo estava muito bem. Estava sozinho ali. Literalmente, só. Não
havia ninguém na água. Aquilo me acendeu o alerta. Ignorei. Voltei pro fundo e
desci no jacaré em mais um ondaço que me deixou em êxtase. A onda perfeita.
Urrei nela de temor e felicidade. Estava ali pleno. Eu, Deus e o Mar: o maior e
mais lindo de todos. Quando olhei pra trás, percebi instantaneanente que ele
tinha virado. E lá estava a sequência. Temi mas não pensei duas vezes. Parti
pra dentro da primeira e maior onda. Cruzei-a facilmente por baixo e, claro,
fui parar bem lá no fundo pra me recompor e continuar a performance. Até que
olho pra areia e vejo a minha Mônica, ao lado do salva-vidas, gritando pra que
voltasse. Não esqueço essa cena. Me marcou muito. Já estava há quase uma hora
na água. Joguei a toalha e resolvi descer já extenuado. Esperei a onda perfeita
e, de carrinho, engatei a primeira, segunda, terceira e, reto e resoluto, fui
parar na areia como um barco chegando de uma temporada no mar. Levantei-me.
Respirei. Esperei palmas, muitas que vieram de mim mesmo. Mônica correu até
mim, me abraçou e me beijou sedenta. O atento salva-vidas, com o pé de pato nas
mãos, continuou me mirando num misto de admiração, respeito e reprovação. Foi
minha última aventura radical no mar. Inesquecível...

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