Marcelo D'Alencourt
Meu primeiro ídolo. Pequeno,
pegava a bola grande, ajeitava com o pequeno braço do lado direito do corpo e
dizia bem alto com orgulho: "Sou o Fischer!" E ia pra pelada com os
amigos. Claro, com a camisa alvinegra. Perturbava meu pai pra ir a um jogo do
Botafogo. Tinha 7 anos. Ele dizia: "Marcelinho, meu filho, vai chegar a hora. Tenha calma!" Eu
ficava indignado. Queria de qualquer jeito ir ao jogo ver o Botafogo e Fischer.
Até que um dia, finalmente aconteceu. O jogo foi em General Severiano contra o
Madureira. Criei um caso federal. Pulei, gritei, essas coisas que crianças
fazem. Meu pai, coitado, jogou a toalha e cedeu: "Não tem como. Tá na
hora! Só tem um detalhe. Torcedor do Botafogo tem que saber cantar o
hino". Eu já sabia há muuuuuito tempo cantar. Ergui o pequeno peito e
entoei o mais lindo dos hinos: "Botafogo, Botafogo, campeão..." Não
tinha mais jeito. Hora de levantar e partir pro estádio. Senti meu pai meio sonolento,
mas fomos. Eu, ele e meu querido tio Neviton. Uniforme, bandeira e, claro, certeza
da vitória. Lá chegando, pasmem, o estacionamento era onde é hoje o Rio Sul. Só
botafoguenses. Entrei no estádio como no grande coliseu romano. Fiquei
encantado. O Botafogo entrou e, claro, entoei nosso hino o mais alto possível.
O jogo começa e aí lembro do ídolo maior que, até então era detalhe, Fischer.
Um gigante. Na altura e em campo. Jogava no meio. Muito forte, raçudo como bom
argentino. Lutava muito. Não aceitava perder como um bom botafoguense. Um
típico Heleno da década de 70. O jogo acabou empatado: 2x2, infelizmente. Fazer
o que? Fiquei decepcionado, afinal de contas, era minha primeira vez no
estádio. Tudo bem. Hoje, 45 anos depois, passei em frente ao nosso clube. Já
imaginaram se eu não tivesse criado aquele escarcéu pra ir ao jogo? Não teria
conhecido General Severiano e meu primeiro ídolo, Fischer, que se despediu do
Botafogo logo depois dessa partida e da vida essa semana. Não tive o prazer de
conhecê-lo. Quando recebi a notícia, foi um misto de muita tristeza e decepção,
afinal de contas, ídolos jamais morrem. Tinha perdido um super-herói de
infância. Descanse em paz, Craque e,
muito obrigado! Valentia e destemor alvinegros. Saiba que você estará sempre
nos meus sonhos, me guiando com a bola nos pés em direção às metas adversárias. E, claro, fazendo memoráveis e
inúmeros gols como você!

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