Marcelo D'Alencourt
Depois de um cheio e cansativo
dia atrás do mestre Platão, Aristóteles senta no canto da praça pra saborear
uma deliciosa limonada. Mal começa a sorver goles generosos do delicioso
refrescante e logo aparece um galo que o cumprimenta efusivamente:
— Oi, Ari, tudo bem? Prazer!
Aristóteles responde atônito:
— Cai fora, Galo. Não te conheço.
Penso agora. Não me perturbe senão chamo a polícia. Além do mais, galos não
falam...
O galo retruca:
— Nossa, quanta falta de educação
para um homem tão sábio! Decepcionei!
Aristóteles não dá bola e
continua com a sua geladíssima limonada. O galo não desiste:
— Entendo a sua revolta, Ari.
Você será eterno discípulo. Acho que isso te mágoa, afinal os fundadores da
sociedade ocidental serão sempre os seus gurus, Sócrates e Platão. Você não
passa de um medalha de bronze. Terceiro!
— Que confiança é essa? Ôôô,
galo, não me importune que tô aqui num momento meu. Vai dar uma volta, se não
acaba numa panela!
O galo sai. Mal termina a bronca,
Aristóteles repara que havia algo de muito incomum naquela estória, afinal de
contas, definitivamente, galos não falam.
— Ei, galo, chega aí!!!
O galo responde na lata:
— Não sou baleiro de trem, Ari.
Aliás, você é uma das pessoas mais mal educadas que conheci! Fuuuuuiiiii...
— Peraí! Quem é você e como
consegue falar, não passando de um pífio voador com penas? Trem? O que é isso?
— Quanta desfaçatez! Diz o galo,
agora magoadíssimo.
— Realmente você, Ari, é um
grosso! Venho do futuro. Do século XXI. Perdi minha vida construindo uma
máquina do tempo pra chegar aqui na Grécia e conhecê-lo. Pior. Deu errado e me
encarnei aqui nesse galináceo que vos fala... Quero ter com Sócrates ou Platão!
Você precisa resolver com urgência seu complexo de discípulo! Quer um analista?
Tenho um ótimo pra te indicar!
Ari já bastante confuso, limonada
quente, diz:
— Analista?!? Político?!? O que é
isso? Sócrates não está mais entre nós. E Platão, não sei. Sempre quieto
observando o nada.
O galo desolado e com lágrimas
nos olhos fala:
— Não. Isso não! Esse era o meu
medo. Chegar atrasado pra conhecer o grande Sócrates. Vocês gregos são uns
mal-agradecidos. Matar o maior dos sábios! E o caso de Platão, como o seu, é de
analista! Psicólogo, Ari. Nada de política.
Aristóteles continua a achar tudo
muito estranho e conclui que está sonhando. Decide acordar. Nada. Belisca o braço.
Também nada. Fica transtornado. O silêncio impera. O galo reaparece:
— Sentiu minha falta né, Ari?!?
Viu como todos somos importantes? Não menospreze os outros, muito menos o
galinaceomauvoadordepenas aqui.
O retorno do galo é um novo
refresco pra Ari, mas retoma o anseio e o incômodo do filósofo. De repente,
vozes:
— Mestre! Mestre! Acorda! Hora de
almoçar!
Ari dá um salto e percebe que
cochilara. Fica aliviado. E livre do galo. Pergunta esfomeado:
— Qual é o almoço?
— Só conseguimos esse galo aqui.
Responde o discípulo meio assustado.
Ari olha pra ave que pisca o olho
pra ele. O sábio dá um salto olímpico e corre desesperadamente em direcão ao
nada, gritando:
— Solta ele, pelamordedeus!!!
Solta!!!!!!
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