sexta-feira, 16 de outubro de 2020

BREVE ENSAIO SOBRE A MENTIRA



Poncion Rodrigues

                Senhoras e Senhores, preparem olhos e ouvidos para um festival de hilariantes mentira que agora se inicia, desfilando no mentiródromo em que se transformam os meios de comunicação nesta época.

                Candidatos e candidatas de qualquer hospedaria partidária irão fazer ecoara ideologia de si próprios, vociferando contra inimigos do povo e se apresentando como anjos guerreiros que haverão de eliminar desde as injustiças sociais, aos buracos de rua que transtornam a vida dos moradores de bairros periféricos. Censuram a malvadeza dos gestores municipais que permitiram o inverno¹ sem controle aguar e alagar certas regiões das cidades. Em sendo eleitos, esse tal inverno haverá de ser domado. PURA VERDADE!

                Caso seja eleito, o candidato Fulano de Tal dará fim a inflação que nos apavora com seus gigantescos dentes afiados. Já o candidato Sicrano da Silva promete com lágrimas nos olhos puxar as orelhas presidenciais sua excelência a cumprir a palavra tantas vezes solta ao vento como fumaça dispersa que rapidamente se esvai.

                A mentira é, na verdade, a principal característica da criatura humana. Primária, no início de nós todos, quando os filhos varões de Adão e Eva negavam a prática do incesto, diante da indisfarçável barriguinha de gestante de uma ou outra irmã. A mentira estava também presente quando Dalila jurava amor eterno ao seu cabeludo Sansão que seria entregue por ela, careca e astênico, aos inimigos filisteus. Lá estava “ela”, presente no “cavalo de troia” e tempos depois, na “fidelidade” de Brutos por Júlio César, a quem ajudaria a matar. No decorrer da história humana a mentira também teve a função nobre de salvar vidas, como a de Galileu, que pressionado pela inquisição da igreja católica, escapou da tortura e morte na fogueira quando negou que a terra fosse redonda e que não fosse o centro do universo. Contrariando suas convicções para tirar o “seu” da reta, o velho instinto de conservação.

               Mas foi, ao que consta, aninhada nas cortes europeias que a mentira ganhou ares de virtude e passou a fazer parte das futricas do poder e das intrigas das alcovas, tão ao gosto dos nobres depravados daquela época.

                Ei-la em nossos tempos, vigorosa como nunca, disseminada como vírus, poderosa com um Deus do Olimpo, ela comanda o mundo como o conhecemos hoje.

                Existem as inocentes “mentiras sociais” (“te devolvo o livro no sábado” – “qualquer dia te pago” – “Você é o amor da minha vida” – “passei toda a tarde no dentista”) e as mentiras criminosas que são proferidas pelos seres insensíveis que governam a  humanidade.

                Não sei precisar se em outros países a mentira é exaltada como no nosso, onde foi nomeado um dia em sua honra, o 1º de abril. Justa homenagem a uma das instituições, mais brasileiras entre todas as nossas “tupiniquices”.

¹ Período chuvoso para os nordestinos  

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