Marcelo D'Alencourt
"Baila comigo" era o
nome da novela das 8h que passava na Globo em 1981. Em campo, todavia, a
estória seria outra. Chegamos às quartas de final do campeonato brasileiro
daquele ano com um time simples, porém super aguerrido: Paulo Sérgio, Perivaldo,
Gaúcho, Osvaldo e Gaúcho Lima; Rocha, Mendonça e Ademir Lobo; Ziza, Marcelo e
Jérson. Dois jogos contra o futuro campeão mundial: o todo e poderoso Flamengo,
de Zico. Pra muitos já tínhamos ido além do possível, mas, pra nós
botafoguenses, a coragem e valentia alvinegras falavam mais alto. No primeiro
jogo, em uma noite fria de abril, deu 0×0. Pasmem: 122 mil pessoas no Maraca! O
empate era nosso, mas tinha o segundo jogo e sabíamos que o Flamengo viria com
tudo pra cima de nós. Me lembro que acordei cedo nesse tenso domingo e fui
correndo à banca de jornal do seu Mário comprar o periódico. Zico disse que, se
o Fla fizesse o primeiro gol até os 5 minutos de jogo, devolveria os 6x0 que o
Botafogo tinha imposto a eles em 1972. Gelei. O tempo paralisou e contava os minutos
pra partir pra segunda e última partida entre os dois gigantes no então
"maior do mundo". O jogo (tenso!) começa e não dá outra: 3 minutos e
1x0. Gol de Zico! A torcida do Fla explode de alegria. Eu? Baixo a cabeça e
oro. Começo a esperar os demais gols dos rubro-negros que felizmente não vêm.
Equilibramos o jogo e, valentemente, começamos a mostrar em campo o verdadeiro
espírito alvinegro: raça e coragem. No final do primeiro tempo, numa jogada
rápida pela direita, empatamos o jogo: Perivaldo cruza e ele, Mendonça do
Botafogo (como gostava de ser chamado), sobe com o zagueiro e o goleiro Raul, e
desvia a bola pra rede. Loucura geral. Éramos, botafoguenses, menos da metade
dos 135000 presentes ao estádio, mas fizemos um grande estardalhaço. O juiz encerra
a primeira etapa da partida e a torcida começa a entoar o nosso hino e não para
mais. Me arrepio até hoje, quarenta anos depois, só de lembrar. O nosso
técnico, Paulinho de Almeida, leva o time pro vestiário e não consegue falar.
Diz pros jogadores: "Ouçam a torcida, voltem lá e vençam o jogo!". O
time retorna bem antes do fim do intervalo. A torcida alvinegra, numa comunhão
espiritual com o valente escrete, levanta e entoa ainda mais alto o eterno
grito de guerra: "Botafogo, Botafogo, campeão...". Eu claro, com
treze anos, cantava junto e pressentia algo de muito bom: a vitória, mas não
sabia que o melhor estaria por vir. O jogo recomeça tenso e o Flamengo
novamente parte pra cima. Nosso time só se defendia e contra-atacava, nossa
especialidade, como sempre diz meu pai. No final do jogo, fizemos o segundo
gol. Jérson com J! Delírio! Mas faltava o grande feito do protagonista do
clássico: Mendonça, o nosso "Estrela Solitária"! A bola é roubada na
intermediária alvinegra e lançada na ponta direita pro Édson, que substituiu
Ziza. Ele dribla o marcador e lança pra área. A pelota vai parar no peito de
Mendonça, que a mata com estilo. Na frente dele, Júnior e Raul. Mendonça
respira, ergue a cabeça e trança as pernas, jogando o corpo pra direita, mas
sai com a bola pro lado esquerdo, deixando Júnior pra trás, paralisado,
estupefato e sem reação. Imortaliza o drible "baila comigo", que até
hoje é lembrado no futebol. Mas ainda faltava Raul, que sai desesperadamente.
Mendonça levanta a cabeça e, de pé direito, "chapa" a bola à meia
altura no ângulo esquerdo da meta rubro-negra: 3x1. Fatura liquidada. Mendonça
corre, com os punhos cerrados, até a nossa torcida, mas não consegue chegar. O
time todo pula em cima dele e comemora aquela que seria, pra mim, a maior
vitória do Botafogo em campo nesses 45 anos de amor, respeito e admiração pelo
Alvinegro de General Severiano. Foooooooooooooooogo!
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