sábado, 5 de junho de 2021

BAILA COMIGO



Marcelo D'Alencourt 

"Baila comigo" era o nome da novela das 8h que passava na Globo em 1981. Em campo, todavia, a estória seria outra. Chegamos às quartas de final do campeonato brasileiro daquele ano com um time simples, porém super aguerrido: Paulo Sérgio, Perivaldo, Gaúcho, Osvaldo e Gaúcho Lima; Rocha, Mendonça e Ademir Lobo; Ziza, Marcelo e Jérson. Dois jogos contra o futuro campeão mundial: o todo e poderoso Flamengo, de Zico. Pra muitos já tínhamos ido além do possível, mas, pra nós botafoguenses, a coragem e valentia alvinegras falavam mais alto. No primeiro jogo, em uma noite fria de abril, deu 0×0. Pasmem: 122 mil pessoas no Maraca! O empate era nosso, mas tinha o segundo jogo e sabíamos que o Flamengo viria com tudo pra cima de nós. Me lembro que acordei cedo nesse tenso domingo e fui correndo à banca de jornal do seu Mário comprar o periódico. Zico disse que, se o Fla fizesse o primeiro gol até os 5 minutos de jogo, devolveria os 6x0 que o Botafogo tinha imposto a eles em 1972. Gelei. O tempo paralisou e contava os minutos pra partir pra segunda e última partida entre os dois gigantes no então "maior do mundo". O jogo (tenso!) começa e não dá outra: 3 minutos e 1x0. Gol de Zico! A torcida do Fla explode de alegria. Eu? Baixo a cabeça e oro. Começo a esperar os demais gols dos rubro-negros que felizmente não vêm. Equilibramos o jogo e, valentemente, começamos a mostrar em campo o verdadeiro espírito alvinegro: raça e coragem. No final do primeiro tempo, numa jogada rápida pela direita, empatamos o jogo: Perivaldo cruza e ele, Mendonça do Botafogo (como gostava de ser chamado), sobe com o zagueiro e o goleiro Raul, e desvia a bola pra rede. Loucura geral. Éramos, botafoguenses, menos da metade dos 135000 presentes ao estádio, mas fizemos um grande estardalhaço. O juiz encerra a primeira etapa da partida e a torcida começa a entoar o nosso hino e não para mais. Me arrepio até hoje, quarenta anos depois, só de lembrar. O nosso técnico, Paulinho de Almeida, leva o time pro vestiário e não consegue falar. Diz pros jogadores: "Ouçam a torcida, voltem lá e vençam o jogo!". O time retorna bem antes do fim do intervalo. A torcida alvinegra, numa comunhão espiritual com o valente escrete, levanta e entoa ainda mais alto o eterno grito de guerra: "Botafogo, Botafogo, campeão...". Eu claro, com treze anos, cantava junto e pressentia algo de muito bom: a vitória, mas não sabia que o melhor estaria por vir. O jogo recomeça tenso e o Flamengo novamente parte pra cima. Nosso time só se defendia e contra-atacava, nossa especialidade, como sempre diz meu pai. No final do jogo, fizemos o segundo gol. Jérson com J! Delírio! Mas faltava o grande feito do protagonista do clássico: Mendonça, o nosso "Estrela Solitária"! A bola é roubada na intermediária alvinegra e lançada na ponta direita pro Édson, que substituiu Ziza. Ele dribla o marcador e lança pra área. A pelota vai parar no peito de Mendonça, que a mata com estilo. Na frente dele, Júnior e Raul. Mendonça respira, ergue a cabeça e trança as pernas, jogando o corpo pra direita, mas sai com a bola pro lado esquerdo, deixando Júnior pra trás, paralisado, estupefato e sem reação. Imortaliza o drible "baila comigo", que até hoje é lembrado no futebol. Mas ainda faltava Raul, que sai desesperadamente. Mendonça levanta a cabeça e, de pé direito, "chapa" a bola à meia altura no ângulo esquerdo da meta rubro-negra: 3x1. Fatura liquidada. Mendonça corre, com os punhos cerrados, até a nossa torcida, mas não consegue chegar. O time todo pula em cima dele e comemora aquela que seria, pra mim, a maior vitória do Botafogo em campo nesses 45 anos de amor, respeito e admiração pelo Alvinegro de General Severiano. Foooooooooooooooogo!

Nenhum comentário: