Por Wilson Seraine
Nos anos 50, 60 e 70 aconteceram diversos movimentos musicais com belas
e marcantes melodias. Movimentos que hoje não são mais lembrados pela
literatura, pela crítica ou pelas rádios e que ficam só amargurando o
saudosismo de poucos. Os movimentos
musicais de hoje, ou melhor, os LIXOS musicais de hoje (que me perdoe o lixo
pela comparação), são os que estão em voga. O único movimento de uns tempos
para cá que ainda merece nosso respeito é o Hip Hop, pelo trabalho que realiza
com os adolescentes das periferias e pelas letras das músicas, que em geral,
trazem uma conotação social interessante.
O forró foi deturpado. Nem a velha e harmoniosa sanfona é utilizada;
letras imorais e amorais são, infelizmente, as mais executadas nas rádios.
Ainda bem que nos restam Dominguinhos, Jorge de Altinho, Flávio José, Alcymar
Monteiro, Santana e mais alguns abnegados que levam os ensinamentos do Velho
Gonzaga para as gerações vindouras. Outro movimento que nos estarrece e nos
enoja é o tal do funck; peço desculpa ao leitor, mas me esquivarei de
comentários, pois posso vomitar sobre o teclado do computador.
Deixemos o lixo e voltemos ao que podemos de fato chamar de música..
Três movimentos tiveram uma marcante passagem pelo cenário musical brasileiro:
a BOSSA NOVA, oriunda da classe média
carioca (a burguesia da época), com letras poéticas, versava sobre a boêmia e,
sobretudo, a exaltação à beleza feminina e à velha dor de cotovelo, onde
Vinícius de Moraes, Nara Leão, Carlos Lira, Toquinho, João Gilberto, Miúcha e
Tom Jobim estavam no comando.
Contemporaneamente, num extremo, a JOVEM GUARDA, a mais alienada e
alienante dos movimentos, com Roberto Carlos, Vanderléia, Erasmo Carlos, Os
Vips, Jerry Adriane, Wanderley Cardoso entre outros, reproduziam de maneira
tupiniquim o Iê,Iê,Iê e o Rock dos Beatles e do Elvis. No outro extremo, a
TROPICÁLIA com suas guitarras elétricas distorcidas e estridentes. Com letras
de músicas mais politizadas, algumas censuradas, faziam, a contragosto do
regime militar, o movimento mais rebelde entre os jovens, cuja referência são;
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Torquato Neto e Os Mutantes de Rita Lee.
Observem que todos os movimentos supracitados tinham um grupo de
pessoas envolvidas na sua construção. Já o Baião, ritmo que dominou o cenário
musical por uma década teve como mentor o véio Luiz Gonzaga. O forró, com o
trio de instrumentos mais famosos da MPB, o triângulo, a sanfona e a zabumba, também
foi criação de Luiz Gonzaga. O Xaxado, com inspiração nas danças dos
cangaceiros, obra também de Gonzaga. Tais exemplos mostram a versatilidade
deste Pernambucano de Exu, que gravou mais de 600 músicas, em cerca de 200
discos. Com 50 ritmos diferentes gravados, Gonzaga promoveu seu próprio
movimento musical.
Gonzaga cantou a força e a beleza da mulher nordestina, cantou rios e
riachos, cantou a dor de cotovelo, cantou as bravuras e covardias dos homens,
cantou o desabrochar da menina moça, cantou as vaquejadas e os vaqueiros,
cantou as lendas e o folclore, cantou Lampião e Padre Cícero, cantou a seca que
assola o sertão. Luiz Gonzaga cantou, contou e nos mostrou a beleza e o orgulho
de sermos Nordestinos.
Dois de
agosto, 23 anos que Gonzagão nos deixou em sua TRISTE PARTIDA.
Wilson Seraine
é professor
wilsonseraine@hotmail.com
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