sexta-feira, 10 de agosto de 2012

GONZAGÃO FEZ SEU PRÓPRIO MOVIMENTO MUSICAL



Por Wilson Seraine

Nos anos 50, 60 e 70 aconteceram diversos movimentos musicais com belas e marcantes melodias. Movimentos que hoje não são mais lembrados pela literatura, pela crítica ou pelas rádios e que ficam só amargurando o saudosismo de poucos.  Os movimentos musicais de hoje, ou melhor, os LIXOS musicais de hoje (que me perdoe o lixo pela comparação), são os que estão em voga. O único movimento de uns tempos para cá que ainda merece nosso respeito é o Hip Hop, pelo trabalho que realiza com os adolescentes das periferias e pelas letras das músicas, que em geral, trazem uma conotação social interessante.
O forró foi deturpado. Nem a velha e harmoniosa sanfona é utilizada; letras imorais e amorais são, infelizmente, as mais executadas nas rádios. Ainda bem que nos restam Dominguinhos, Jorge de Altinho, Flávio José, Alcymar Monteiro, Santana e mais alguns abnegados que levam os ensinamentos do Velho Gonzaga para as gerações vindouras. Outro movimento que nos estarrece e nos enoja é o tal do funck; peço desculpa ao leitor, mas me esquivarei de comentários, pois posso vomitar sobre o teclado do computador.
Deixemos o lixo e voltemos ao que podemos de fato chamar de música.. Três movimentos tiveram uma marcante passagem pelo cenário musical brasileiro: a  BOSSA NOVA, oriunda da classe média carioca (a burguesia da época), com letras poéticas, versava sobre a boêmia e, sobretudo, a exaltação à beleza feminina e à velha dor de cotovelo, onde Vinícius de Moraes, Nara Leão, Carlos Lira, Toquinho, João Gilberto, Miúcha e Tom Jobim estavam no comando.
Contemporaneamente, num extremo, a JOVEM GUARDA, a mais alienada e alienante dos movimentos, com Roberto Carlos, Vanderléia, Erasmo Carlos, Os Vips, Jerry Adriane, Wanderley Cardoso entre outros, reproduziam de maneira tupiniquim o Iê,Iê,Iê e o Rock dos Beatles e do Elvis. No outro extremo, a TROPICÁLIA com suas guitarras elétricas distorcidas e estridentes. Com letras de músicas mais politizadas, algumas censuradas, faziam, a contragosto do regime militar, o movimento mais rebelde entre os jovens, cuja referência são; Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Torquato Neto e Os Mutantes de Rita Lee.
Observem que todos os movimentos supracitados tinham um grupo de pessoas envolvidas na sua construção. Já o Baião, ritmo que dominou o cenário musical por uma década teve como mentor o véio Luiz Gonzaga. O forró, com o trio de instrumentos mais famosos da MPB, o triângulo, a sanfona e a zabumba, também foi criação de Luiz Gonzaga. O Xaxado, com inspiração nas danças dos cangaceiros, obra também de Gonzaga. Tais exemplos mostram a versatilidade deste Pernambucano de Exu, que gravou mais de 600 músicas, em cerca de 200 discos. Com 50 ritmos diferentes gravados, Gonzaga promoveu seu próprio movimento musical.
Gonzaga cantou a força e a beleza da mulher nordestina, cantou rios e riachos, cantou a dor de cotovelo, cantou as bravuras e covardias dos homens, cantou o desabrochar da menina moça, cantou as vaquejadas e os vaqueiros, cantou as lendas e o folclore, cantou Lampião e Padre Cícero, cantou a seca que assola o sertão. Luiz Gonzaga cantou, contou e nos mostrou a beleza e o orgulho de sermos Nordestinos.
Dois de agosto, 23 anos que Gonzagão nos deixou em sua TRISTE PARTIDA.

Wilson Seraine é professor
wilsonseraine@hotmail.com

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