A. J. de O. Monteiro
Dos
frequentadores do bar da Miúda, um dos mais brincalhões e divertido era o
Nogueira (Papainha), falecido há uns três anos. Era um piadista engraçadíssimo
e nos fazia rir mesmo contando as piadas mais bobas e, até mesmo quando as
repetia. Era também conhecedor e exímio contador de “causos”, na maioria,
impublicáveis.
Um
dos “causos” que ele contava é muito apropriado ao período pré-eleitoral que
vivemos. Contava ele que seu pai, Seu Doca, fazendeiro lá das bandas das
Inhumas, era detentor de um respeitável patrimônio (curral) eleitoral que o
fazia muito procurado pelos políticos locais, por razões óbvias. Ele, no
entanto, não negociava votos, dava-os a quem achasse merecedor.
Nas
manhãs dos dias de eleição, contava Papainha, Seu Doca reunia o plantel, digo, os
eleitores, dava-lhes o café da manhã e distribuía as cédulas eleitorais
dobradas e já com os candidatos de sua escolha assinalados. Numa dessas manhãs
solenes, distribuídas as cédulas, observou um caboclo novo abrindo sua cédula e
gritou: “O que é isso, cabra, estás abrindo a cédula?” Timidamente, quase num
sussurro, o pobre homem respondeu: "É, Seu Doca, estou querendo ver em quem vou
votar...” E Seu Doca, desferindo-lhe um “brogue” no cocuruto, exclamou: "E por
acaso não sabes que o voto é secreto, caboclo ignorante?!”
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