quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O VOTO É SECRETO, CABOCLO!


A. J. de O. Monteiro


           
           Dos frequentadores do bar da Miúda, um dos mais brincalhões e divertido era o Nogueira (Papainha), falecido há uns três anos. Era um piadista engraçadíssimo e nos fazia rir mesmo contando as piadas mais bobas e, até mesmo quando as repetia. Era também conhecedor e exímio contador de “causos”, na maioria, impublicáveis.
            Um dos “causos” que ele contava é muito apropriado ao período pré-eleitoral que vivemos. Contava ele que seu pai, Seu Doca, fazendeiro lá das bandas das Inhumas, era detentor de um respeitável patrimônio (curral) eleitoral que o fazia muito procurado pelos políticos locais, por razões óbvias. Ele, no entanto, não negociava votos, dava-os a quem achasse merecedor.
            Nas manhãs dos dias de eleição, contava Papainha, Seu Doca reunia o plantel, digo, os eleitores, dava-lhes o café da manhã e distribuía as cédulas eleitorais dobradas e já com os candidatos de sua escolha assinalados. Numa dessas manhãs solenes, distribuídas as cédulas, observou um caboclo novo abrindo sua cédula e gritou: “O que é isso, cabra, estás abrindo a cédula?” Timidamente, quase num sussurro, o pobre homem respondeu: "É, Seu Doca, estou querendo ver em quem vou votar...” E Seu Doca, desferindo-lhe um “brogue” no cocuruto, exclamou: "E por acaso não sabes que o voto é secreto, caboclo ignorante?!”  

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