sexta-feira, 12 de julho de 2013

DE TUDO UM POUCO






Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira.
                Estou com 80 anos. Desde criança, tenho vivido fatos que, de alguma maneira, influenciaram a mim, e às gerações contemporâneas, o nosso comportamento dentro de uma sociedade que sofre mudanças impostas por quem detém o poder político-econômico, isto é, por aqueles que conservam para si próprios o domínio do conhecimento tecnológico.
                Tais mudanças, pela velocidade com que ocorrem, trazem impactos na vida das pessoas, obrigando-as a um enfrentamento, somente possível, mediante organizações, que as possam analisar, e absorvê-las. Mas, não só isso. Sobretudo, para que sobrevivam e se imponham aos grupos dominantes, forçando uma participação, principalmente, na política social, sempre maior, nas decisões que afetam, em última análise, o bolso da população, ou, em outras palavras, o bem-estar social. Evidentemente, mudanças na política social implicam em mudanças na política econômica. Como a economia estar, mais que nunca, internacionalizada, tudo que lhe diz respeito depende de um confronto de forças, visível, hoje, entre dominantes e dominados, o que força, os últimos, a se unirem, conforme a velha máxima “a união faz a força”.
                A conquista da soberania, pelos estados, que marcou o século XX, ficou para trás, pois isto não existe na sociedade globalizada. É a conquista da cidadania que importa, onde a fala não é a libertação, mas a participação, vez que os caminhos e a caminhada, são comuns, não individuais.

                Entretanto, chegar lá, não é fácil. A luta pelo Poder, entre os que lá se encontram e os que o querem atingir, não implica, necessariamente, na luta pela participação. As organizações políticas, na realidade, encontram-se caducas, pois sempre existiram e não compreenderam, ou não exerceram o seu papel, o de representar e defender os direitos da cidadania. Serão, possivelmente, as chamadas organizações populares que irão despertá-las para a nova realidade, que exige justiça social, trabalho, renda, paz, educação, saúde etc,... etc, para todos, para a humanidade. A discussão, hoje, é sobre como se chegar lá.
                A conscientização das organizações políticas é resultante do nível de conscientização de seus afiliados. Toma-se imprescindível que se filiem a essas organizações todos aqueles que almejam pela participação nas decisões políticas e pelo exercício pleno de sua cidadania. Tais organizações seriam escolhidas por seus programas e objetivos, como, também, por suas lideranças, cujas atividades fossem identificadas com os novos valores que se desejam para o Poder: servir, sem dominar, distribuir, e, não, concentrar, democratizar e, não, privilegiar. Transformar os partidos políticos em fóruns de debates sobre rumos novos a serem tomados, face uma realidade que se transforma velozmente, e seguir esses novos rumos, é prioridade primeira para o enfrentamento ao poder egoísta, injusto e dominador.

                Como disse, não é fácil. O processo de conscientização é, antes de qualquer coisa, um processo cultural, e as mudanças culturais são demoradas, principalmente, quando mexem com valores decorrentes do subdesenvolvimento, que, ao mesmo tempo, o alimentam, e da dominação, que impede o acesso ao conhecimento e à tecnologia. Mas, antes tarde do que nunca...

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