Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira.
Há
tempo, leio e escuto muita gente empregando termos como "democracia",
"cidadania", "estado democrático",
"governabilidade", "desenvolvimento", "crescimento econômico”,
"políticas sociais", e outros mais, no afã de defender suas
convicções político-ideológicas, elogiando/condenando governos de todos os
tipos, inclusive os ditatoriais.
A
grande maioria dos que se utilizam desses termos em seus discursos, parece
desconhecer os seus significados. No entanto, muitos o fazem de má-fé, para se
conservarem no poder, (vejam os políticos), e outros, também, conscientemente,
na defesa de seus interesses, ou de sua classe econômica, ou, mesmo, de sua
ideologia.
Desde criança, tenho vivido fatos que, de
alguma maneira, influenciaram a mim, e às gerações contemporâneas, o nosso
comportamento dentro de uma sociedade que sofre mudanças, resultantes de
decisões dos que detém o poder político-econômico, isto é, daqueles que
conservam para si próprios o domínio do conhecimento e da tecnologia. Tais
mudanças acontecem face o estado de alienação da grande maioria das populações
que, por isso mesmo, são alijadas dos processos decisórios.
Tais
mudanças, pela velocidade com que ocorrem, trazem impactos na vida das pessoas,
obrigando-as a um enfrentamento, somente possível, mediante organizações, que
as possam analisar e criticar. Mas, não só isso. Sobretudo, para que sobrevivam
e se imponham aos grupos dominantes, forçando uma participação, principalmente,
na política social, nas decisões que afetam, em última análise, o bolso da população,
ou, em outras palavras, o bem-estar social. Evidentemente, mudanças na política
social implicam em mudanças na política econômica. Como a economia está, mais
que nunca, internacionalizada, tudo que lhe diz respeito depende de um
confronto de forças, visível, hoje, entre dominantes e dominados, o que força,
os últimos, a se unirem, conforme a velha máxima “a união faz a força”.
A
conquista da soberania, pelos estados, que marcou o século XX, ficou para trás,
pois isto não existe na sociedade globalizada. É a conquista da cidadania,
pelas pessoas, que importa, onde a fala não é a libertação, mas a participação,
vez que os caminhos e a caminhada, são comuns, não individuais.
Entretanto,
chegar lá, não é fácil. A luta pelo Poder, entre os que lá se encontram e os
que o querem atingir, não implica, necessariamente, na luta pela participação.
As organizações políticas, na realidade, encontram-se caducas, pois sempre
existiram e não compreenderam, ou não exerceram o seu papel, o de representar e
defender os direitos do cidadão. Serão, possivelmente, as chamadas organizações
populares e a socialização da informação, cada vez mais veloz, que irão
despertá-las para a nova realidade, que exige justiça social, trabalho, renda,
paz, educação, saúde, segurança pública, etc,... etc, para todos, para a
humanidade. A discussão, hoje, é sobre como se chegar lá.
A
conscientização das organizações político-sociais cujas atividades forem
identificadas com os novos valores que se desejam para o Poder: representar e,
não, dominar; servir, e, não, se servir; distribuir, e, não, concentrar;
democratizar e, não, privilegiar, transformará os partidos políticos em fóruns
de debates, com a participação popular, sobre rumos novos a serem tomados, face
a uma realidade que se transforma velozmente, prioridade primeira para o
enfrentamento ao poder egoísta, injusto e dominador.
Como
disse, não é fácil. O processo de conscientização é, antes de qualquer coisa,
um processo cultural, e as mudanças culturais são demoradas, principalmente, quando
mexem com valores decorrentes do subdesenvolvimento, e da dominação, que
impedem o acesso ao conhecimento e à informação. Mas, antes tarde do que nunca.
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