Daniel Cariello**
Na Avenida
Nossa Senhora de Copacabana é preciso desviar das gentes, dos operários sempre
consertando um cano estourado ou uma instalação elétrica que deu ruim, dos
camelôs, dos polícias olhando os telefones ao invés de olhar os arredores, e
dos gatunos olhando os arredores para terem certeza de que os polícias estão
olhando os telefones e os pedestres estão observando os operários.
É uma aventura
abrir caminho na Nossa Senhora de Copacabana às seis da tarde, quando todo
mundo está cansado e quer voltar rapidão pra casa depois de passar o dia em
escritórios, agências de publicidade, consultórios de dentistas, lojas de
sapatos, Lojas Americanas, bancos, lanchonetes de suco, elétricas, sendo
homem-cartaz, engraxate, vendedor de sinal, todos esses profissionais formais e
informais atrás de dinheiro para pagar o sustento e poderem voltar ali no dia
seguinte.
Dizem que se
os habitantes de Copacabana saíssem de casa ao mesmo tempo não haveria espaço
na rua para todo mundo. Aí o desafio de andar pela Avenida seria ainda maior e
as gentes deveriam caminhar em fila. O simples ato de atravessar o sinal
poderia demorar uma hora e meia e pedir um café no boteco tomaria o dia
inteiro. Chegar à praia, nem te conto, é melhor nem pensar nisso.
Os operários,
coitados, não têm culpa do caos na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Eles
estão ali tentando resolver um encanamento-gambiarra, um recapeamento-gambiarra
no asfalto, uma instalação elétrica-gambiarra. O Rio de Janeiro é uma gambiarra
tão grande, com fios, tomadas, interruptores velhos, fitas isolantes, remendos,
rejuntes gastos, puxados, improvisos, quebra-galhos, todos esses jeitinhos
formando um gato enorme que há um medo não dito de uma gambiarra na Baixada Fluminense
entrar em curto-circuito e a reação em cadeia fazer cair a luz da cidade. Pra
sempre.
Apesar
disso, ou por causa disso, é ótimo andar por ali. Menos de carro, pois a coisa
não avança nem com reza braba e se eu fosse você evitava a façanha a todo custo.
A pé é melhor e dá pra parar pra tomar um suco de fruta do conde e um sanduíche
de peru com queijo minas, dá pra fuçar as antigas galerias, dá pra comer
bolinho de bacalhau com chope, dá pra descobrir um sebo e gastar umas horas, dá
pra ir ao cinema e ao teatro, dá pra ter diversão de adulto quando cai a noite,
dá pra observar todo tipo de gente, bebê, criança, adolescente, adulto, velho e
até, dizem, umas almas penadas, dá pra bisbilhotar as bugigangas made in China
vendidas pelas centenas de barracas de camelôs made in Rio mesmo.
A Avenida
Nossa Senhora de Copacabana é um universo. Quando a gente menos percebe, está
ali, de bobeira, observando a vida acontecer de forma ininterrupta, até que
passa um pivete correndo mais que onça pintada, toma sua carteira e sai
costurando entre gentes, operários, polícias em seus telefones, fords,
chevrolets, fiats, renaults, peugeots, mercedes, segways, muletas, carrinhos de
bebê, cadeiras de rodas, triciclos, bikes, motos, todo esse mundão até
desaparecer pra sempre no buraco negro da Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br
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