sexta-feira, 10 de julho de 2015

BOLA PRA FRENTE*



Daniel Cariello (1)**

Não, não deixa entrar. Esse cantor tá dando azar pra todo mundo por quem torce. E parece que hoje tá querendo apoiar nosso time. Não importa que ele tenha ingresso, filho brasileiro ou que a gente adore suas músicas, ele é pé frio, todo mundo sabe. O jogo eu vou ver na minha poltrona preferida, a verde, que posiciono bem em frente à TV. Não a movo um milímetro, até marquei o lugar dela no chão, com fita adesiva. Fico ali, sentado, em silêncio, comendo pistache e vestindo a camiseta amarela de sempre. Sem lavar, claro, pra não limpar as energias positivas das vitórias acumuladas. Até agora, tem dado certo, estamos passando. É verdade que meio aos trancos e barrancos, mas o importante é que eu tenho feito a minha parte. O Neymar machucou, mas em 62 ganhamos sem o Pelé. “Neymar tá dodói” tem 13 letras. “Alemanha perde” também. O caneco é nosso! O jogo é no Mineirão e Belo Horizonte dá sorte, todo mundo se lembra da disputa com o Chile, que ganhamos nos pênaltis. Em 62, também batemos os chilenos e fomos campeões. Se eu prefiro a Argentina ou a Holanda na final? Pra mim, tanto faz, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor, e essa taça vai ficar no nosso país. Eu vi aquele repórter, aquele jogador e aquele vidente dizendo que dessa vez não tem pra ninguém. O quê, o jogo já acabou? Levamos quantos gols? Tudo isso? Cacete! A culpa foi minha, fiquei tagarelando e distraí da hora da partida. Não vesti minha camiseta amarela, não comi pistache e não estava na cadeira da sorte. E parece que o tal cantor foi visto na torcida brasileira. Ele não podia ter apoiado a Alemanha, só hoje? Bom, vai ficar pra próxima. “Rússia é bem ali” tem 13 letras. Bola pra frente, o hexa é nosso!

(1) Esse texto foi escrito logo depois do 7x1.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br

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