Daniel Cariello (1)**
Não, não deixa entrar. Esse
cantor tá dando azar pra todo mundo por quem torce. E parece que hoje tá
querendo apoiar nosso time. Não importa que ele tenha ingresso, filho
brasileiro ou que a gente adore suas músicas, ele é pé frio, todo mundo sabe. O
jogo eu vou ver na minha poltrona preferida, a verde, que posiciono bem em
frente à TV. Não a movo um milímetro, até marquei o lugar dela no chão, com
fita adesiva. Fico ali, sentado, em silêncio, comendo pistache e vestindo a
camiseta amarela de sempre. Sem lavar, claro, pra não limpar as energias
positivas das vitórias acumuladas. Até agora, tem dado certo, estamos passando.
É verdade que meio aos trancos e barrancos, mas o importante é que eu tenho
feito a minha parte. O Neymar machucou, mas em 62 ganhamos sem o Pelé. “Neymar
tá dodói” tem 13 letras. “Alemanha perde” também. O caneco é nosso! O jogo é no
Mineirão e Belo Horizonte dá sorte, todo mundo se lembra da disputa com o
Chile, que ganhamos nos pênaltis. Em 62, também batemos os chilenos e fomos
campeões. Se eu prefiro a Argentina ou a Holanda na final? Pra mim, tanto faz,
sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor, e essa taça vai ficar no
nosso país. Eu vi aquele repórter, aquele jogador e aquele vidente dizendo que
dessa vez não tem pra ninguém. O quê, o jogo já acabou? Levamos quantos gols?
Tudo isso? Cacete! A culpa foi minha, fiquei tagarelando e distraí da hora da
partida. Não vesti minha camiseta amarela, não comi pistache e não estava na
cadeira da sorte. E parece que o tal cantor foi visto na torcida brasileira.
Ele não podia ter apoiado a Alemanha, só hoje? Bom, vai ficar pra próxima.
“Rússia é bem ali” tem 13 letras. Bola pra frente, o hexa é nosso!
(1) Esse texto foi
escrito logo depois do 7x1.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Pariswww.cheriaparis.com.br
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