sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

MAGOS, MÁGICOS, MÁGICAS E MAGIAS


Manoel Emilio Burlamaqui de Oliveira

Ele vem, e vai, quando quer, de acordo com sua curiosidade, com sua saudade, com sua amizade... A nossa é antiga, do tempo em que tive um sítio , pras bandas da Mata do Soim, onde ele se escondia (hoje, não mais sei onde mora) e que frequentava, de vez em quando, para bater um papo, tomar tenência, contar "causos" e gozar dos feitos dos homens de hoje, tão parecidos com os dos outros homens, de épocas passadas, segundo ele, tudo acompanhado de uma cachacinha com tira-gostos, que nem ele era de ferro! (Sempre perguntava a razão do nome "tira-gosto", já que o gosto era uma beleza...)
Falo de uma figura mítica, o Mago Manu, desterrado, por seu chefe, Marlim, das plagas do Rei Arthur, por ter querido ajudar certo Cavaleiro da Távola Redonda a botar um par de chifres no capacete real...
A lembrança não veio atoa. No amanhecer do 1º dia do ano, a campainha do portão de casa começou a tocar, insistentemente, até que, saindo do agradável estado de um sonhador, fui ver quem nos incomodava em pleno raiar do sol... Deparei-me com um maltrapilho sorridente, dando-me “bom dia, Andante"! Forcei a vista, pronto a dar umas bengaladas ao abusado, quando percebi que o atrevido não era outro senão o Mago! Mais que depressa, ele tirou da cintura a sua varinha, e, com um gesto, suas vestes voltaram ao normal, parecendo o Papa, todo de branco, mudando, apenas, o solidéu, para o conhecido gorro pontudo dos magos. Vôte, que susto me deu essa entrada de ano!
—"Assuste-se não, amigo velho, é uma fantasia que uso, com medo dos assaltos. Ninguém rouba dos miseráveis, só os maus políticos, que ainda dormem, sonhando com novas falcatruas"! Rí do Mago, mandei-o entrar e abancar-se no terraço, para conversarmos, à espera de um café suculento, que só minha mulher sabe fazer, depois que o resto da família acordasse.
—"Estou de muda, não aguento mais essa era", declarou de supetão. "Pegaram-me de surpresa, mudaram o sentido e o valor das palavras, e, por cima de tudo, quiseram me apedrejar!" Aí, quem não aguentou fui eu! Quem poderia querer maltratar uma pessoa que só desejava o bem dos outros? Pedi-lhe que me contasse tudo. E, ele o fez:
—"Magos não são mágicos, magias não são mágicas. Mas existem, mágicos, que não frequentam circos, nem os circos são como antes . Hoje, há um tal de Congresso, onde congressistas mágicos não retiram coelhos da cartola, mas dinheiro do bolso do povo !" "E há uma tal de loteria que sorteou 280.000.000 de reais e deixou as pessoas malucas, a ponto de me procurarem para que seus bilhetes fossem premiados! Como lhes disse que não fazia mágica e que minha magia não mudava a sorte de ninguém, jogaram pedras em mim!" "Também, surgiram , neste fim-de-ano, magos de todos os tipos, a prever futuros encomendados, ou a enganar os tolos, sem bananas e bolos, mas prontos a gastar seu rico dinheirinho em troca de promessas de um novo ano maravilhoso... Credo, vou-me para a Pasárgada, ou, ainda estou pensando, para a terra dos Buendia – Macondo – a convite de um contemporâneo do Gabriel Garcia Marques..."
Tomamos o café sem defeitos, lamentei sua decisão, mas fi-lo prometer que, sempre, nos faria novas visitas e desejei-lhe maior respeito dos mais novos...
Ganhei um presente dele "Magos e magias sempre existirão, pois habitam o coração das crianças, dos adultos, que, vira e torna, voltam a ser crianças, dos que se veem em cada um de seus semelhantes, dos que acreditam no bem, dos construtores de um mundo melhor, desses que são os verdadeiros magos sem que disso se apercebam... adeus, amigo velho!"
Obs.: Tenho a impressão de que, quem convidou o Mago Manu para conhecer o Garcia Marques, foi um amigo comum, o cronista A. J. de O. Monteiro...

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