quarta-feira, 20 de abril de 2016

FAZER ANIVERSÁRIO


Ananda Sampaio*

               Quando mais jovem não gostava dos meus aniversários. Aquele tédio que alguns jovens sentem pelas tradições ou manifestações familiares que perpassam os anos. Quase todos os meus aniversários foram comemorados na casa da minha avó. Um almoço, uma comida especial, os primos, os tios — todos reunidos.
               O tempo passa e como é de costume ele leva consigo um monte de coisas: cacarecos sentimentais, ideias voláteis, pensamentos imaturos e, principalmente disponibilidade. Vamos envelhecendo, nossa agenda se enche de compromissos que tendem a não incluir a nossa família e amigos. E assim, percebemos que passamos pouco tempo ao lado de quem é importante para nós.
                              Os compromissos de trabalho, o corpo exausto, o desejo de querer chegar em casa e se sentir livre. Tudo isso nos afasta, se interpõe entre nós e o mundo que antes vivêramos. Triste não? Sim, bastante. Antes minhas tardes poderiam ser gastas com minhas primas comendo seriguelas no teto da garagem. Ou assistindo algum filme bobo enquanto conversámos sobre tantas coisas, tínhamos muito assunto, muita confissão a fazer. Hoje nos encontramos mais em silêncios e abraços. Como nosso tempo é escasso temos que aproveitar para estar perto, isso já é muito.
               Agora quando faço aniversário sinto-me desobrigatoriamente feliz. Porque sei que parte das pessoas que amo encontrará uma brecha no seu relógio apressado e cumprirá uma maratona para nos encontrarmos neste dia. Alguns abandonarão o trajeto premeditado para se doar um abraço, sorrir um pouco e desabafar sobre o fastio da vida adulta.
               Constatar mais uma vez que o tempo passa rápido e que a vida anda mais apressada do que nunca ultimamente. Que, ao invés, de três ponteiros o relógio parece ter mil. Um deles parece um dedo apontado para nós. Inquisidores. Nesses breves encontros não podemos sentar calmamente no sofá e falar de todas as desimportâncias que tanto nos afligem, nem dos medos que guardamos e que exigem esmero para serem impulsionados para fora de nós. Não despejamos mais o tempo a nosso bel prazer. Ele que despeja sobre nós incessantemente as tarefas não cumpridas, as metas que foram abandonadas ao meio do caminho e o quanto vivemos à revelia de nosso próprio coração.
               Ser alegre é ser triste. E fazer aniversário é isso.

*Jornalista, estudante de Letras, leitora e aspirante (suspirante) escritora. Integrante do@coletivoleituras

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