Ananda Sampaio*
Quando
mais jovem não gostava dos meus aniversários. Aquele tédio que alguns jovens
sentem pelas tradições ou manifestações familiares que perpassam os anos. Quase
todos os meus aniversários foram comemorados na casa da minha avó. Um almoço,
uma comida especial, os primos, os tios — todos reunidos.
O
tempo passa e como é de costume ele leva consigo um monte de coisas: cacarecos
sentimentais, ideias voláteis, pensamentos imaturos e, principalmente
disponibilidade. Vamos envelhecendo, nossa agenda se enche de compromissos que
tendem a não incluir a nossa família e amigos. E assim, percebemos que passamos
pouco tempo ao lado de quem é importante para nós.
Os
compromissos de trabalho, o corpo exausto, o desejo de querer chegar em casa e
se sentir livre. Tudo isso nos afasta, se interpõe entre nós e o mundo que
antes vivêramos. Triste não? Sim, bastante. Antes minhas tardes poderiam ser
gastas com minhas primas comendo seriguelas no teto da garagem. Ou assistindo
algum filme bobo enquanto conversámos sobre tantas coisas, tínhamos muito
assunto, muita confissão a fazer. Hoje nos encontramos mais em silêncios e
abraços. Como nosso tempo é escasso temos que aproveitar para estar perto, isso
já é muito.
Agora
quando faço aniversário sinto-me desobrigatoriamente feliz. Porque sei que
parte das pessoas que amo encontrará uma brecha no seu relógio apressado e
cumprirá uma maratona para nos encontrarmos neste dia. Alguns abandonarão o
trajeto premeditado para se doar um abraço, sorrir um pouco e desabafar sobre o
fastio da vida adulta.
Constatar
mais uma vez que o tempo passa rápido e que a vida anda mais apressada do que
nunca ultimamente. Que, ao invés, de três ponteiros o relógio parece ter mil.
Um deles parece um dedo apontado para nós. Inquisidores. Nesses breves
encontros não podemos sentar calmamente no sofá e falar de todas as
desimportâncias que tanto nos afligem, nem dos medos que guardamos e que exigem
esmero para serem impulsionados para fora de nós. Não despejamos mais o tempo a
nosso bel prazer. Ele que despeja sobre nós incessantemente as tarefas não
cumpridas, as metas que foram abandonadas ao meio do caminho e o quanto vivemos
à revelia de nosso próprio coração.
Ser
alegre é ser triste. E fazer aniversário é isso.
*Jornalista,
estudante de Letras, leitora e aspirante (suspirante) escritora. Integrante do@coletivoleituras
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