segunda-feira, 9 de maio de 2016

O QUE, PASSOU , PASSOU?


Manoel Emilio Burlamaqui de Oliveira
               O exercício do refletir, sempre fez parte de meus hábitos, principalmente quando procuro entender as mudanças, quotidianas, do comportamento de uma sociedade da qual faço parte, que retratam o passo a passo do caminhar humano.
               A reflexão, irremediavelmente, leva – me a um teatro com dois palcos, onde, no primeiro, os atos se ligam à minha presença em momentos vividos e/ou participados por mim, enquanto, no segundo palco, é a história do homem, contada e escrita por historiadores, antropólogos, sociólogos, filósofos, economistas, e pesquisadores, dividida em atos demarcados, no tempo e no espaço, pelos sistemas de poder político, social, econômico, semelhantes, em épocas denominadas de idades, e essas, por vezes, subdivididas em eras.
               Interessante é verificar como os dois palcos se comunicam, pois, é, exatamente, o primeiro palco que me faz entender, analisar, criticar e projetar a história contada, e representada, no segundo.
               Ao revirar o meu passado, experimento uma sensação estranha, de quantos rumos tive de optar para alcançar o que julgava melhor para mim, norteado por princípios éticos e morais, adquiridos no seio de minha família, nas escolas que frequentei, na leitura de obras que me embeveciam, assimiladas na infância e na juventude.
               Enquanto aprendia a ler e escrever, aprendia, também, a respeitar as criaturas, fossem pessoas, bichos ou plantas; e qualquer ato maldoso, ainda que a maldade não fizesse pouso em nossa consciência de crianças, eu, e meus amigos, éramos punidos. Não havia “meninos de rua”, mas uma molecada brincalhona e barulhenta, que jogava bola de meia, peteca (bola de gude), pião, empinava papagaio, e andava de rolimã. Também, não havia preconceito de cor, talvez um pouco de preconceito de gênero, pois os pais “guardavam” as meninas em casa, e os “frescos” não eram bem vistos/recebidos pela “turma”.
               A leitura levou-me a descobrir um novo mundo, impensável numa criança de dez anos. Dizem que a curiosidade matou o gato. Bom que não havia gato, pois essa curiosidade botou-me dentro de uma biblioteca, onde, o maior trabalho, era escolher o livro da vez, para matar minha ignorância. Até que encontrei Monteiro Lobato e, com ele, um mundo, até então, desconhecido!
               A leitura ávida de suas obras, e das que lhe seguiram, sem dúvida, deu-me as pistas de que necessitava para a escolha de meus caminhos. 

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