Manoel Emilio Burlamaqui de Oliveira
O
exercício do refletir, sempre fez parte de meus hábitos, principalmente quando
procuro entender as mudanças, quotidianas, do comportamento de uma sociedade da
qual faço parte, que retratam o passo a passo do caminhar humano.
A
reflexão, irremediavelmente, leva – me a um teatro com dois palcos, onde, no primeiro,
os atos se ligam à minha presença em momentos vividos e/ou participados por
mim, enquanto, no segundo palco, é a história do homem, contada e escrita por
historiadores, antropólogos, sociólogos, filósofos, economistas, e
pesquisadores, dividida em atos demarcados, no tempo e no espaço, pelos
sistemas de poder político, social, econômico, semelhantes, em épocas
denominadas de idades, e essas, por vezes, subdivididas em eras.
Interessante
é verificar como os dois palcos se comunicam, pois, é, exatamente, o primeiro
palco que me faz entender, analisar, criticar e projetar a história contada, e
representada, no segundo.
Ao
revirar o meu passado, experimento uma sensação estranha, de quantos rumos tive
de optar para alcançar o que julgava melhor para mim, norteado por princípios
éticos e morais, adquiridos no seio de minha família, nas escolas que
frequentei, na leitura de obras que me embeveciam, assimiladas na infância e na
juventude.
Enquanto
aprendia a ler e escrever, aprendia, também, a respeitar as criaturas, fossem
pessoas, bichos ou plantas; e qualquer ato maldoso, ainda que a maldade não
fizesse pouso em nossa consciência de crianças, eu, e meus amigos, éramos
punidos. Não havia “meninos de rua”, mas uma molecada brincalhona e barulhenta,
que jogava bola de meia, peteca (bola de gude), pião, empinava papagaio, e
andava de rolimã. Também, não havia preconceito de cor, talvez um pouco de
preconceito de gênero, pois os pais “guardavam” as meninas em casa, e os “frescos”
não eram bem vistos/recebidos pela “turma”.
A
leitura levou-me a descobrir um novo mundo, impensável numa criança de dez
anos. Dizem que a curiosidade matou o gato. Bom que não havia gato, pois essa
curiosidade botou-me dentro de uma biblioteca, onde, o maior trabalho, era
escolher o livro da vez, para matar minha ignorância. Até que encontrei
Monteiro Lobato e, com ele, um mundo, até então, desconhecido!
A
leitura ávida de suas obras, e das que lhe seguiram, sem dúvida, deu-me as
pistas de que necessitava para a escolha de meus caminhos.
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