segunda-feira, 4 de junho de 2018

A MINHA CADEIRA PREGUIÇOSA



Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

                Quem já possuiu essa coisa gostosa, também conhecida como espreguiçadeira?
                “Meio-deitado nela, meu pai me contava estórias de ‘trancoso” e eu, quantos anos depois, me pergunto, repassava –as e acrescentava outras , para filhos e netos...
                Raposas que bebiam cachaça e ficavam bêbadas dando gaitadas e rolando pelo chão!
                Macacos que roubavam milharais e bananais e botavam um vigia, para avisá-los quando vinha alguém, e batiam no “vigia” se não ao avisasse, a tempo de fugirem de visitantes inesperados.
                Tatús que garantiam que o seu buraco era uma fortaleza, de onde ninguém o arrancava...
                Gaviões que se apavoravam quando eram perseguidos por Bem- te- vis, pássaro querido de seus colegas por costumar salvá-los das aves de rapina!
                Ah! Minha cadeira preguiçosa, onde tantas vezes dormitei e sonhei!
               Sonhos aonde os bichos vinham falar comigo... E, tenho certeza, tornavam-se meus amigos!
                Vagarosamente, iam se achegando em torno de mim, contando como suas vidas mudaram depois de tê-los salvos de preserpadas em que se meteram...
                A raposa, salva por mim dos caçadores que deixaram a cachaça numa bacia, para prendê-la bêbada, e mata-la, garantiu que deixou de beber e, nunca mais, comeria das minhas galinhas...
                Um macaco, bastante crescido, que foi vigia, enquanto seus pareceiros roubavam milho e banana dos quintais alheios, e acordou com um tiro meu, para alertar a macacada de que intrusos, não benvindos, estavam chegando, trouxe-me o recado de que ninguém mais botaria a mão nos frutos de meu quintal...
                Rolinhas, canários, pardais, pintassilgos, sabiás, e outras avesitas, cantando de alegria, agradeciam-me pela acolhida carinhosa que dei a um bem-te-ví amigo e à sua família...
                E meu amigo, amarelo e preto, com a pousada que lhe proporcionei , onde impera m a segurança, a alegria, o amor e a paz, juntava-se aos outros para louvarem, com seus cantos, o Criador!
                E, então, senti uma beliscadela e foram-se embora os sonhos... Apareceu a fêmea do bicho-homem, (perdoe-me minha querida esposa) atriz nº 1 da nossa vida! Dona de um relógio implacável!: “O café estar na mesa” “Desocupe o banheiro!” “Cuidado pra não atrasar pro emprego!” “Hoje é dia da feira”, “Apaga a luz e vamos dormir, que a energia tá muito cara” e, etc. etc...
             Ainda bem que a semana tem sábados e domingos, além dos feriados, dias em que a preguiça me transforma , mais uma vez, em dono daquela cadeira gostosa, aonde bebo, sem sair dela, minha pinga, como meus torresmos e pasteizinhos com uma loura suada, e deixo meus amigos com inveja!
E volto aos meus sonhos...!

Nenhum comentário: