quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

JESUS, O MARTÍRIO CONTINUA*



Poncion Rodrigues**

                Ensinam as escrituras que o filho de Deus nasceria entre os humanos. Nasceu o filho de Deus e identificado como tal, foi aceito, venerado e seguido por multidões, afrontando a máquina militar romana, reacionária tradição religiosa hebreia e o status de ódio predominante em sua época.
                Com o binômio caridade e amor ao próximo, aliado à humildade, a humanidade de então e de sempre estaria municiada para resgatar o projeto divino inicial. O martírio de Jesus Cristo estaria então justificado na nobre missão de reconduzir a criatura humana ao caminho do bem.
                Pobre Jesus! A doce veneração dos primeiros tempos, nas catacumbas escondidas do cristianismo incipiente, transformou-se na indústria arrecadadora e vendedora da salvação celeste. Era a época das “indulgências papais”! E em Teu nome foram acesas as fogueiras da Inquisição, com os múltiplos “Torquemadas”, coordenando a diabólica Inquisição. Em Teu nome se torturava e se matava novamente.
                Em nome do Teu amor e sob o pretexto da inspiração divina, papas depravados foram “eleitos”. E os Bórgias da Itália reinaram tomando posse da “Tua” igreja, nascida do amor, amor que plantaste entre nós.
                 Na minha época, agora, quando os sinais do fim dos tempos se anunciam, com perturbadora clareza, os teus “donos” ditam regras; afrontam a miséria e a AIDS africana, com sua riqueza abrigam a pedofilia embaixo do Teu Santo manto. A Tua pregação de humildade transformou-se na farra do dinheiro facilmente arrecadado, projetado nas mansões do exterior, que definem o encantamento de que dando o seu dinheiro você conquista a simpatia de Deus, no tal projeto da riqueza fácil.
                Pobre de Ti, meu amigo Jesus. Pobres de nós, teus admiradores. Pobre da indiferente humanidade que caminha irreversivelmente para sua extinção, evidenciando a falência do generoso projeto de nosso Pai e criador, o qual transformara a divindade em “humano” na malograda tentativa de salvar sua experiência com as criaturas do planeta Terra.
                Deus tenha piedade de nós!
*Publicado originalmente no Diário do Povo/Teresina
**Poncion Rodrigues é médico

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