sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

OLHAR DE ESTRELA



Poncion Rodrigues

                Foram aqueles olhos violetas que fascinaram e fizeram sofrer de amor, o garoto assistia a “Cleópatra” no saudoso cine 4 de Setembro em distante ano, já jogado pelo tempo no limbo perdido do que se chama passado. Foi na visão erótica daquele rosto projetado na tela e na safada imaginação do sonhador que mares nunca dantes navegados foram singrados pelo intrépido marinheiro corroído pelo ciúme de um certo Richard Burton.
                Era um tempo de descobertas e das angústias de quem tinha 13 anos de idade. Nos dias de hoje, quando a infância de cada indivíduo é curtíssima, pouco passando da fase lactante, a constituição precoce do adulto competitivo, cibernético e não humano tem ocupado o espaça da ternura, do amor platônico e das noturnas excursões pelo fantástico universo de sonhar acordado.
                Agora, maduro, antipático e deslocado, o ex-garoto não entende o que aconteceu com adivinha Elizabeth Taylor e com outras musas de seu tempo e de outros tempos de bem antes, como a celestial Greta Garbo, cuja beleza serena e recatada escondiam por trás do magnífico olhar em preto e branco uma sensualidade que beirava a pornografia.
                Bem depois, Brigite Bardot e Marilyn Monroe (quase Kennedy) encantariam gerações. Todavia, Liz Taylor continuava reinando com especial presença luminosa nos anos 50 e 60 do século passado.
                Afinal quem teria sido essa mulher, colecionadora de maridos, de joias caras e de avassaladores mergulhos etílicos?
                Enquanto isso seu lindo corpo de Cleópatra se degradava de flacidez e obesidade.
                Que estigma demoníaco teria também destruído Greta Garbo e levado ao suicídio a linda fútil e superficial Marilyn Monroe? Tal sina teria transformado em um ser irreconhecível a antigamente exuberante Brigite Bardot, com caras e bocas de camponesa ingênua e que, segundo depoimento de seu primeiro marido Roger Vadin, possuía o “dom da infidelidade”. Ela é hoje uma atuante protetora dos animais, cruzada que lhe um certo toque de nobreza; mas em suas raras aparições públicas a bizarra exposição sua velhice sem retoques assusta criancinhas.  
                Outras divas do cinema ainda encantariam o garoto, como as italianas Sofia Loren e Claudia Cardinale. Mas, nossa! Aqueles violetas de Liz Taylor não eram mesmo deste mundo nem devem ser entendidos como parte de um ser humano comum. Adeus sedutora Cleópatra, que teve em suas mãos os imperadores Júlio César e Marco Antônio além, é claro, do anônimo ex-garoto, imperador do amor platônico pela inalcançáveis rainhas do cinema.  

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