Poncion Rodrigues
Foram
aqueles olhos violetas que fascinaram e fizeram sofrer de amor, o garoto
assistia a “Cleópatra” no saudoso cine 4 de Setembro em distante ano, já jogado
pelo tempo no limbo perdido do que se chama passado. Foi na visão erótica
daquele rosto projetado na tela e na safada imaginação do sonhador que mares
nunca dantes navegados foram singrados pelo intrépido marinheiro corroído pelo
ciúme de um certo Richard Burton.
Era
um tempo de descobertas e das angústias de quem tinha 13 anos de idade. Nos
dias de hoje, quando a infância de cada indivíduo é curtíssima, pouco passando
da fase lactante, a constituição precoce do adulto competitivo, cibernético e
não humano tem ocupado o espaça da ternura, do amor platônico e das noturnas excursões
pelo fantástico universo de sonhar acordado.
Agora,
maduro, antipático e deslocado, o ex-garoto não entende o que aconteceu com adivinha
Elizabeth Taylor e com outras musas de seu tempo e de outros tempos de bem
antes, como a celestial Greta Garbo, cuja beleza serena e recatada escondiam
por trás do magnífico olhar em preto e branco uma sensualidade que beirava a
pornografia.
Bem
depois, Brigite Bardot e Marilyn Monroe (quase Kennedy) encantariam gerações.
Todavia, Liz Taylor continuava reinando com especial presença luminosa nos anos
50 e 60 do século passado.
Afinal
quem teria sido essa mulher, colecionadora de maridos, de joias caras e de
avassaladores mergulhos etílicos?
Enquanto
isso seu lindo corpo de Cleópatra se degradava de flacidez e obesidade.
Que
estigma demoníaco teria também destruído Greta Garbo e levado ao suicídio a
linda fútil e superficial Marilyn Monroe? Tal sina teria transformado em um ser
irreconhecível a antigamente exuberante Brigite Bardot, com caras e bocas de camponesa
ingênua e que, segundo depoimento de seu primeiro marido Roger Vadin, possuía o
“dom da infidelidade”. Ela é hoje uma atuante protetora dos animais, cruzada
que lhe um certo toque de nobreza; mas em suas raras aparições públicas a
bizarra exposição sua velhice sem retoques assusta criancinhas.
Outras
divas do cinema ainda encantariam o garoto, como as italianas Sofia Loren e
Claudia Cardinale. Mas, nossa! Aqueles violetas de Liz Taylor não eram mesmo
deste mundo nem devem ser entendidos como parte de um ser humano comum. Adeus
sedutora Cleópatra, que teve em suas mãos os imperadores Júlio César e Marco
Antônio além, é claro, do anônimo ex-garoto, imperador do amor platônico pela inalcançáveis
rainhas do cinema.

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