Adriano de Angelis
Parece mesmo que muita gente
tomou antipatia pelas LIVES, veja só.
Na prática mesmo são shows,
bate-papos, treinamentos físicos, dicas de receita, de moda e maquiagem... por
aí vai.
Ou seja, tudo que já existia. A
rigor, nada, absolutamente nada novo ao sol.
Só o nome: LIVE. Algo bonito.
Super fresh.
E é disso que as pessoas tomaram
birra.
Afinal ser do contra é um esporte
nacional. Somos bons nisso. Temos treinado ao longo de décadas.
Mas continuamos adorando música,
querendo bons shows, conversas com amigxs, se exercitar. Acredito até que os
treinamentos fitness durante a quarentena aumentaram.... mas LIVE LIVE, aí já é
demais.
"Já tem que aguentar várias
expressões idiotas nessa disgrama de quarentena: lockdown, isolamento social,
achatar a curva... E agora ainda querem me engabelar com essa tal de LIVE? Ah
não, Deus me LIVE." Diria alguma espécie de Seu Lunga em tempos atuais.
Dizem que essa questão de
nomenclatura, terminologia, afeta demais o comportamento de nós seres humanos,
desprovidos de paz-e-ciência em pleno século 21.
Vejam a situação da pandemia,
desse tal corona vírus.
Dizem que a culpa pela nossa alta
contaminação nem é por conta da doença, e sim do impacto (ou da falta dele)
causado pela expressão: COVID-19.
Que parece nome de evento, de
atividade cultural.
Algo como COngresso VIsual de
Designers 2019.
Ou... COncurso VIrtual de
Depilação. 19 vagas.
Como é alguém vai ter receio real
de algo com nome tão atrativo? (eu morreria de medo de um concurso de
depilação)
Fica então difícil cumprir
isolamento, respeitar quarentena, diante de um termo tão sedutor não é mesmo?
E essa hipótese (creio eu) nem é
nova viu... Acho que vi numa LIVE.
Outro dia, fiz um zapping de
LIVEs no Instagram.
Sei que tem gente que prefere as
LIVEs do Facebook, do Youtube ou até as LIVEs da TV aberta, que também
embarcaram nessa onda pra exibir seus velhos shows de quase sempre.
É bem capaz, inclusive, que o
especial de natal do Roberto Carlos esse ano seja uma LIVE. Com as mesmas cores
de roupa em destaque, com as mesmas cores proibidas de se usar, com as mesmas
convidadas e convidados, provavelmente mesmo tipo de iluminação e enquadramento
de câmeras. No mesmo palco e na mesma emissora. Só que agora vai ser uma LIVE.
Ou seja, up-to-date!
Mas voltando ao zapping... passei
umas boas horas navegando por diferentes LIVEs.
Algumas me marcaram:
O jovem casal faz uma receita de
macarrão com picadinho de carne especial e tempero de algum canto da Bolívia.
Parece gostoso mas sou vegano, pena;
Um velho rockeiro, famoso dos
anos 80, mostra no violão cintilante suas principais referências do rock
nacional, a começar por Engenheiros do Hawaii;
Uma jovem loirinha explica pra
outra jovem loirinha como faz pra melhorar as poses sexys nas selfies: segura o
queixo assim, estica uma perna e encolhe a outra, faz biquinho com a boca de
lado... e por aí foram;
Um influenciador conhecido e
super tatuado entrevista um deputado federal graúdo e rechonchudo para tentar entender
o que chegará primeiro: a vacina contra o corona ou o impeachment contra o
presidente;
Um amigo de uma amiga de outro
amigo, que sei lá porque cargas d'água comecei a seguir, tenta mostrar em
desenhos rabiscados ao vivo que a Terra nem é plana nem é redonda, que ela é
hexagonal;
Uma Ex BBB ensina os 10 melhores
exercícios pra ter o BumBum na Nuca. Eita! senti um comichão aqui atrás;
Um DJ da periferia carioca
convida ao vivo moças desinibidas a rebolarem pra câmera do celular enquanto
ele toca uns funks semi eróticos e exibe vídeos de si mesmo em técnicas de
animação gráfica rudimentar;
Uma consultora de moda paulistana
tenta explicar porque a "nova moda" pós pandemia será mais inclusiva
e responsável socialmente, mesmo apontando que os trabalhadores e trabalhadoras
da indústria têxtil tendem a ganhar menos ainda a partir de agora;
E outras e outras e outras....
São muitas LIVES por dia, por
hora.
Todas me atraem, poucas me
convencem.
Mas experiência é a palavra
chave.
Deus me LIVE.

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