sexta-feira, 3 de julho de 2020



Regina IredLa

                Acordei. A cama, meu ninho, tá quentinha. Estou numa posição gostosa e me aconchego. Tem barulho na cozinha. Cheiro de café no ar. A máquina de lavar roupa tá trabalhando, como diria meu sobrinho de 2 anos. Ainda não sei a hora e nem sei se quero saber, mas em um movimento mecânico pego o celular: 10h37. Droga! E me culpo de novo. Faço alguns tantos Ho’oponoponos, nem conto porque ainda não tenho uma japamala. Tento espantar a culpa e percebo que preciso mudar minha dinâmica matutina ou de duas, uma – ou enlouqueço ou assumo o hedonismo como filosofia de vida de vez. Sacudo-me na cama e me puxo pro mundo. Levanto. Abro a porta do quarto. Chego na cozinha e vejo uma bacia de cuscuz com ovos em cima da mesa. Alegria tem cor, amarelo cuscuz. Encho minha caneca Athos Bulcão com aquele café preto, sem açúcar, por favor! dou e recebo um Bom dia!, solto um O que vai ter pro almoço?, mas antes que me peçam pra lavar a louça saio a procura do céu. Céu azul brigadeiro. Inverno em Brasília e nessa época esse céu sem nuvens, quase um azul piscina, é super comum. Vou correndo pra sacada. Sento-me no chão com o café numa mão e a bacia de cuscuz na outra. Sol de inverno no rosto e sumiu a culpa, esqueço todos meus problemas de classe média branca e sou feliz... até que acaba o cuscuz da bacia, o café esfria e tenho que entrar e encarar aquela louça.

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