Carlos
Alberto Monteiro Falcão
Nem tinha noção que viveria o
suficiente para me deparar com uma pandemia. A vida de confinamento é
estressante, mas sair de casa e
enfrentar a sociedade em meio a esse
alvoroço é bem pior. A necessidade de comprar uns “cachés” de uso contínuo me
fez sair de casa, mesmo em pânico. Já na drogaria próxima de casa, tive uma sensação
digna de filmes de pestes ou invasões alienígenas, em que cada pessoa que se
aproximava parecia um inimigo, ou melhor, um infectado e infectante em
potencial. Parecia até que olhar no olho das pessoas seria o suficiente
para a contaminação e, mesmo usando máscara,
se falava muito pouco e sempre de cabeça baixa. A cada cinco minutos, um punhado de álcool em
gel era derramado nas mãos, seguidos de 20 segundos de fricção, mesmo sem tocar
em nada ou se aproximar de alguém. Após a aquisição dos remédios, a chegada em casa ainda foi mais tensa. Sapatos, chaves e outros
objetos no terraço, direto para o banheiro dos fundos, roupas descartadas em
lugar apropriado e um banho demorado. Muito
shampoo para pouco cabelo. Com tanta confusão, uma pescaria nas águas barrentas do velho monge seria muito relaxante.
Pronto, tá decidido, vou pescar no
final de semana! Hora de organizar as
tralhas e agora faz parte também, um bom frasco de álcool em gel e, pelo menos três
ou quatro máscaras. A expectativa e
ansiedade eram grandes. Logo cedo, o
custo foi carregar o carro e sair.
—
Bom dia Reginaldo,
—
Bom dia! Onde o Sr. vai tão cedo e sem máscara? Questionou o porteiro do
condomínio. Dei meia volta! Ficou em cima da mesa.
Vidros
semiabertos para não ligar o ar, rádio ligado em uma emissora nacional,
comentando a quantidade de novos casos, o que aumentava ainda mais a minha indignação
pela quantidade de carros rodando em pleno domingo de "loockdown" parcial. No
meio caminho, o stress de uma barreira da PM, questionando sobre meu destino e claro, dando orientações sobre o
afastamento social e uso de máscara e álcool em gel. Enfim, chegamos no “Beco
do Sossego”. Agora é só tranquilidade e
descontração. O caseiro Nivaldo já me
esperava na entrada e quando brequei, já foi entrando no carro sem usar a
máscara. Instintivamente pulei fora com uma habilidade que nem sabia que ainda
tinha
—
Você está louco? Cadê a sua máscara?
— Esqueci em casa. Respondeu o
pobre rapaz constrangido.
Tá vendo
como é importante andar com máscaras de reserva? Resolvido a pendenga, fomos direto para a beira do rio. O embarque
do material de pesca foi um pouco tumultuado. Lá se foi quase meio frasco de álcool em gel,
sempre com o devido cuidado para manter a distância.
Rio
acima, paramos no primeiro ponto de
pesca. E agora? O que fazer? Quando higienizar as mãos? Lava no rio ou passa o
álcool? Passa álcool nas iscas também? Nessa confusão, quase todas as iscas caíram
nas águas do rio para deleite dos peixes.
Enfim,
começamos a pescaria. Como sempre, o
velho monge não nos decepciona. Uma meia
dúzia de piaus de coco um pouco maior que um palmo e alguns mandis do mesmo
porte começaram animar a pescaria. Só começaram, porque o remanescente de isca
acabou quando os peixes mais “batiam”. E
para fechar com chave de ouro, com a última isca consegui capturar um “mandi
cabeça de cavalo” que, na ânsia de removê-lo do anzol, me descuidei e como
consequência, levei uma boa ferroada na mão.
Só me restou
voltar para o meu quartel general, único
lugar que me sinto seguro. Tudo isso depois de uma pescaria para diminuir o
stress.

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