Carlos Alberto Monteiro falcão
Fui considerado o homem mais corajoso da pescaria. Essa história rola em grupos de pescadores da
região, principalmente nas rodas de conversa lá no sítio do seu Rocha.
— O cara pegou o bicho sozinho!
— Travou uma luta incrível com a fera dentro das águas.
O fato é
que esse causo me rende o título de caçador de jacarés até hoje, mas, vamos
ao que de fato aconteceu. Fomos
convidados para participar de uma pescaria lá pras bandas de Matões, no
Maranhão. Era pescaria em uma lagoa a uns 60 km de estrada ruim. Chefiada pela
dona Emília, matriarca do Sítio e
apaixonada pela arte da pesca, a esposa do seu Rocha organizava todo o
evento nos mínimos detalhes, para que não faltasse nada. Muitas tralhas, várias braças de redes de
nylon, muitas varas de pesca além de mantimentos para um batalhão de pessoas. Tudo
foi organizado com antecedência na camionete, naquela animação.
Saímos cedinho
e quando o sol nasceu já estávamos na estrada.
Inicialmente pegamos a BR 226 que, apesar de estar asfaltada há muito
tempo nos papeis, nesse percurso, continua uma estrada carroçável com muitos
trechos de dificuldade. Não demorou
muito e pegamos uma estradinha de chão, estreita, com muita lama, pedras e
pequenos riachos a serem vencidos. Uma grande aventura. Enfim chegamos! Montamos acampamento em uma pequena casa de
apoio. Logo o “rancho” estava montado e
um fogão a lenha com fogo ateado para preparar o almoço rápido. Depois da refeição, descemos para a beira da
lagoa a uns 800 metros, por uma vereda no meio de um cocal fechado. Dona Emília comandava o grupo, seguida do “Gasolina”,
seu fiel escudeiro, carregando um banquinho, o qual a matriarca usaria para
acomodar-se à beira da lagoa, além da vara de bambu, já preparada para
pescaria. O grupo era grande, além da
Dona Emília, duas moradoras do sítio, quatro pescadores profissionais, o Gasolina
e eu, pela primeira vez na região.
Chegando às águas, o grupo foi logo tratando de limpar alguns pontos de
pesca de anzol e acomodando a Dona Emília.
Os sacos com as redes de pesca foram distribuídas entre os pescadores,
os quais em dupla, se organizaram para colocar as armadilhas.
— Como
você não tem experiência em armar engancho, fica aí com o Gasolina, pescando de
anzol e tomando conta das mulheres.
—Assim eu não aprendo! Vou com vocês sim.
Mesmo com o argumento, nos pontos selecionados, sempre me
deixavam à beira da água enquanto eles esticavam as armadilhas. Redes na água, voltamos para pescaria de
anzol. Várias traíras de médio porte
animaram o início da pescaria, até o escurecer.
Já no rancho, é aproveitar o ponto alto desse tipo de
pescaria: a reunião em volta da fogueira. É nesse momento que nos deliciamos
com as melhores histórias. Só estava
faltando a pinga, trancada a sete chaves pela Dona Emília , que não liberava a
“malvada” antes de despescar o engancho.
— Conheço meu “gado”, se liberar agora, não vão olhar a
armadilha e ficamos sem os peixes!
Nesse momento eu vi a possibilidade de ganhar a confiança
do pessoal. Fui lá e convenci a “General” do grupo a liberar alguns goles, me
comprometendo que ia com eles ver as armadilhas. Aí a história mudou e agora
sim, passei a fazer parte da pescaria.
Ao amanhecer, chegou a hora de
remover as armadilhas e veio a grande surpresa. Um jacaré de papo amarelo,
comum na região estava preso em uma das redes. Era um dos grandes. O pobre
réptil devia ter relutado a noite
inteira e já estava sem forças. Um dos pescadores carregou uma espingarda bate
bucha e atirou no animal. Acho que que
esse tiro foi fatal entretanto, os
homens ficaram com receio de entrar na água. Num relampejo de coragem que,
diga-se de passagem, nem sei onde a arrumei, entrei na água com um facão e,
quando me aproximei, acertei o animal já inerte na região do pescoço.
-Pronto, podem pegar o “quiba” e ligeiro, antes que
piranhas cheguem!
Depois do ocorrido, passei a ser o
“caçador de jacarés”, o mais corajoso do grupo e por aí vai! Como toda boa
história de pescador, já foi muito alterada nas rodas de conversa. Há quem diga
que eu lutei por horas com a fera, sem falar que o bicho aumenta de peso e
tamanho a cada narrativa.
Um comentário:
Verdade!!
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