terça-feira, 27 de maio de 2014

ABERTURA AO (SUB) DESENVOLVIMENTO IV





Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

O outro lado da moeda – continuação
                Impérios se formaram, alguns, efemeramente, outros, mais duradouros, numa luta permanente, entre si, onde decisões eram tomadas por reis, imperadores, tiranos, e outros titulares de um poder absoluto, cabendo às suas populações, somente, a obediência àquelas decisões. O suprimento dos meios de sobrevivência, dos que não participavam do poder, era determinado conforme julgamento de suas necessidades, pelos governantes, nunca por solicitações ou exigências de quem, deles, dependia, cujas aspirações nem eram ouvidas, nem sentidas.
                Séculos se passaram e a estrutura do poder pouco se alterou. O absolutismo, resultado de um processo histórico da formação dos Estados, criou formas de se sustentar, da mesma maneira como, atualmente, é feito no “Estado Democrático” ou no” Estado Ditatorial”, para que o poder continue nas mãos dos que, lá, estão...
                Pensadores, filósofos, ideólogos, emergiram nas culturas da antiguidade e nas modernas, procurando analisar, criticar e encontrar perspectivas para o bem-estar da humanidade, com propostas de criação de novas estruturas político-administrativas, sendo ,até hoje, celebrizados, o trio grego, Sócrates, Platão e Aristóteles. Ainda que, todos eles elitistas, tenham sido os primeiros a valorizar o conhecimento e a educação como instrumento de mudanças na estrutura do poder, lembremos que foi com eles, há mais de 300 anos A.C. que ouvimos discursos sobre moral e ética, democracia, vida e felicidade, e que, já naqueles idos, filósofos pré e pós – socráticos amadureciam ideias que fundamentariam as ideologias e a política modernas. Platão nos deixou sua “Utopia”, Aristóteles, o seu Liceu, onde ensinava a uma juventude rica o uso da lógica, (uma de suas maiores contribuições ao desenvolvimento da pesquisa, da cultura e do conhecimento científico) e as mais diversas matérias, que procuravam explicar o universo e seu destino.
                Não obstante, o pensamento e o ensino filosóficos não produziram a pacificação entre os povos, que continuaram a dividir o mundo entre vencedores e vencidos, conquistadores e conquistados, saqueadores e saqueados, dominadores e dominados, “desenvolvidos’ e “subdesenvolvidos”. As guerras continuaram, e, até de “santas”,

domingo, 25 de maio de 2014

POÉTICA


Isaias Coelho Marques

Negro azedume
De palavras
Mofadas
Poesia trancada
A sete mistérios
Divina solução
Do nada
Versos são miragens
No entanto
Teimo em esgrimir
No deserto.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

ABERTURA AO (SUB) DESENVOLVIMENTO III


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
“O outro lado da moeda”
                Se, de um lado, temos aspirações e necessidades para satisfazer, do outro lado, precisamos saber como atendê-las. E, mais ainda, a quem caberá esse formidável ônus, que inclui, naturalmente, a busca dos recursos suficientes para tal atendimento, e, de que forma, como deverão, tais recursos, ser aplicados para que os resultados alcançados sejam, de fato, os exigidos pela crescente demanda de bem estar social.

                Incursionando, rapidamente, na história da humanidade, verificaremos que a necessidade de sobrevivência levou ao surgimento de grupos humanos, que se juntaram e se organizaram para a busca e a produção de alimentos (caça, pesca, coleta de frutos, depois, agricultura e criação de animais domésticos), assim como para a defesa contra as intempéries e as agressões das feras, então existentes, abundantemente. O aumento populacional desses grupos deu origem a uma organização, cada vez mais, racional, com a distribuição de responsabilidades, pelas suas diversas atividades, originando o que, hoje, conhecemos como sociedades organizadas, isto é, os Estados. E o provimento das necessidades e das aspirações daquelas populações exigiu um planejamento, bem como a procura de novos instrumentos que facilitassem esse provimento, obrigando o homem a criar, inventar, descobrir, outros meios, ou alternativas, que o ajudassem em seus afazeres. As mais distantes, e diversas, regiões da terra foram ocupadas, as atividades produtivas adaptaram-se a cada meio-ambiente, a cultura humana iniciou os seus passos para sua universalização, a troca de produtos, o seu comércio, e a distancia entre os produtores, exigiu meios de transporte e de comercialização (moedas, por exemplo), e a cobiça das lideranças, administrações, dos governantes, gestores, ou quaisquer outros nomes que lhes derem, deu início às guerras pelo poder e pela riqueza, onde os vencedores apropriavam-se de tudo, inclusive dos próprios derrotados, que eram escravizados para a execução do trabalho pesado, primordialmente. E, não se pode esquecer, novos mercados iam sendo absorvidos...

terça-feira, 20 de maio de 2014

INDAGAÇÃO


Isaias Coelho Marques

Depois da morte
Sul ou Norte?

ABERTURA AO (SUB) DESENVOLVIMENTO - II


Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira

A Bola de Neve
            Aspirações, todos as temos... Mas, ela se difere de lugar para lugar, conforme a cultura do povo, seu conhecimento, suas necessidades, suas localidades, etc., etc. Exemplos: as aspirações dos europeus são diferentes daquelas dos africanos, as dos pobres são muito poucas, comparadas com as dos ricos, quem mora no nordeste, convivendo com a seca, sonha diferente de quem mora no sul, onde há agua abundante, os valores religiosos, muita vez, se diferem entre si (até no cristianismo, doutrinas católicas divergem das professadas pelo protestantismo...) Mas, a satisfação dessas aspirações não decorre, somente, do desejo de atendê-las, e sim, sobretudo, da necessidade de seu atendimento, pois são básicas para a existência humana.
     Também, as aspirações e as necessidades não se esgotam, crescem, estendem-se, (antes vagarosamente, hoje, em alta velocidade), na medida em que o mundo se torna mais visível aos seus habitantes racionais, cuja população também cresce , que passam a lutar por outros valores, não mensuráveis, que contêm uma força maior que os valores materiais. São valores coletivos, políticos, ideológicos, antes existentes, apenas, nas discussões filosóficas e religiosas, e nos lemas revolucionários e, hoje, fazendo parte e iluminando o caminho do desenvolvimento: Independência política e econômica das nações, (soberania), cidadania, participação da população nas decisões do poder, conhecimento tecnológico e dos instrumentos da produção, ensino público em todos os graus, em nível de excelência, são alguns componentes dessa bola de neve que, parece, aumenta o seu tamanho a cada dia...
Seguiremos no próximo capítulo.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

ABERTURA AO (SUB) DESENVOLVIMENTO – I



Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira.

"O desenvolvimento é um dos desafios do mundo atual”
                Frases como esta têm sido lidas e ouvidas, com maior insistência, a partir da década de 40. E uma literatura abundante surge sobre desenvolvimento, subdesenvolvimento, planejamento, projetos, etc., que se propõe a solucionar o problema da pobreza de 2/3 da população da Terra. Formam-se as mais diversas correntes teóricas, que debatem entre si conceitos e ideologias, políticas e estratégias de ação. Metas básicas e prioridades. Elaboram-se planos, programas e projetos, e, todos afirmam, como não poderia deixar de ser, "o homem é o objetivo de todo e qualquer planejamento"!
                Em matéria de resultados, surgem obras de toda a natureza, em todos os campos e setores da atividade dos governos. Entretanto, o fosso entre pobres e ricos parece aprofundar-se, em termos relativos...
                É verdade que se verificam mudanças, à medida que são realizados investimentos. Mas..., a quem atingem tais mudanças? A quem beneficiam ou prejudicam? Pode-se, apenas, conjeturar, uma vez que o "status quo" continua...
                Na realidade, esses benefícios, quase nunca, implicam no crescimento econômico de uma nação, nem atingem o paralelo alcançadopela cultura humana. Além disso, o crescimento econômico não se traduz, também, em crescimento social, a níveis individuais. Não sengam as dificuldades existentes, em nações jovens e pobres, para o alcance de um desenvolvimento econômico e social compatível com a necessidade do bem estar de suas populações. Mas, pode-se desejar, e, de fato deseja-se, que os mais pobres fiquem menos pobres e que gozem da distribuição da riqueza nacional, através de serviços públicos eficientes, principalmente, nas áreas de habitação, educação , saúde, saneamento, transportes, segurança, lazer, proteção do meio-ambiente, imprescindíveis a uma sobrevivência decente do ser humano.
                Levantam-se, agora, três indagações que merecem respostas convencíveis: a) que nível de bem estar seria tido como mínimo necessário a essa "sobrevivência decente"? b) quem indica, ou determina tal nível? c) como , quando, seria atingido?
                Procurarei respondê-las no próximo capítulo.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

SEM VOCÊ



Isaias Coelho Marques

Nada mais importa
A porta aberta
A rua deserta
Essa estrada
Sem fim
Nada mais importa
Eu sem você
Você sem mim

DOCES PENSAMENTOS*



Daniel Carriello**
               
               Ia distraído pelo Eixinho quando passei por uma minivan que ostentava dizeres garrafais na sua porta traseira: “Atenção: transporte de bolos”. Surpreso, desacelerei meu carro e me posicionei atrás dela, só para ter certeza de que o texto era aquele mesmo. Era.
            Nas minhas duas décadas de volante, já havia visto automóveis com frases como “Mantenha distância: valores” ou “Cuidado: combustíveis”, mas era a primeira vez que cruzava com um “Atenção: transporte de bolos”. E fiquei pensando que um veículo desses não apenas merecia ter pista livre à frente, merecia, também, ser celebrado.
               Em um átimo (sempre quis usar essa palavra, átimo, e agora consigo, não é ótimo?), viajei para um mundo sem ganância e sem individualismo, no qual não precisaríamos de mais carros-fortes cheios de dinheiro, com janelinhas minúsculas pelas quais passem apenas olhares vigilantes e canos de fuzis de quem está lá dentro, levando mais grana para quem já tem muita. Nem de caminhões de gasolina atravessando a cidade, pois os combustíveis seriam praticamente desnecessários em ruas dominadas por bicicletas e um eficiente transporte público elétrico.
            Nesse lugar, o bolo teria prioridade sobre a bolada. E os tipos caseiros, feitos a mão pelas avós, seriam os bens mais preciosos de todos. Principalmente se tivessem uma grossa camada de chocolate e fossem servidos ainda mornos, com a cobertura escorrendo.
              No reino da utopia, as reuniões importantes ocorreriam na hora do lanche, em torno de um floresta negra ou de uma tartelete de morango. E as decisões deveriam ser tomadas antes do fim da última fatia da iguaria, sob pena de serem declaradas complicadas demais para valer a pena.
             O triunfo da combinação de farinha, leite, ovos, manteiga e recheios diversos seria a confirmação de que havíamos finalmente percebido que não precisamos de muito para ser felizes. No máximo de um café, para acompanhar os quitutes e ver a vida passar no ritmo que ela deveria ter.
          Fui seguindo aquele carro, para ver aonde ele ia, até que o telefone tocou, tirando-me do meu universo particular e me trazendo de volta ao mundo da correria e dos engarrafamentos. Era um colega com quem tinha um compromisso, para o qual já estava trinta minutos atrasado.
– Ô rapaz, cadê você?
– Tô indo.
– Vê se não vai me dar o bolo.
– Olha, até que não seria uma má ideia.
– Hã?
– Nada, nada...
*Originalmente publicado em Veja Brasília de 09/05/14.
**Leia também as crônicas de Paris, escrita pelo mesmo autor, no livro Chéri à Paris (www.cheriaparis.com.br).



terça-feira, 6 de maio de 2014

OSVALDINHO, RAPAZ!



A. J. de O. Monteiro
               
                Aquela manhã do sábado imprensado pelo feriado da 5ª feira transcorria enfadonha. Já perto das 11 horas e nenhum cliente aparecera, nem mesmo telefonara. Sozinho em minha sala já lera todos os jornais, checara os e.mails, até arrisquei um jogo de palavras cruzadas, que certamente não é meu passatempo favorito. Da antessala vinham os sussurros da secretária e do manobrista, entrecortados por longos e modorrentos bocejos.
                Nesse clima resolvi encerrar meu expediente e antecipar em 1 hora minha ida ao bar da Pequena onde, quase todos os sábados, há mais de 10 anos, reúno-me com um grupo de amigos, “companheiros de copo e de cruz”, como disse Chico Buarque. Formamos uma espécie de confraria sem lema. Ali se contam piadas, ouve-se música (às vezes ao vivo), fala-se mal da vida alheia, de políticos, tudo isso acompanhado de cerveja, para uns e uísque, para outros, além de tira gosto feito na hora (dependendo, é claro, dos humores da proprietária, nem sempre dos melhores).
                Fechei a porta do escritório, fiz as recomendações de praxe aos colaboradores e saí... Quando chegava ao carro, no estacionamento, o telefone tocou. Atendi e ouvi: “OSVALDINHO, RAPAZ! Há quanto tempo”! Surpreso, respondi: Ô, amigo, você se enganou de número, este telefone não é do Osvaldinho...
— “O que é isso rapaz, quem me passou teu número foi o Ambrósio; além disso, tua voz não me engana; continua a mesma daqueles tempos sofridos da Casa do estudante. Eita vozeirão...”.
— Olha amigo, vou repetir: Meu nome não é Osvaldinho, não conheço nenhum Ambrósio. Meu nome é Erosdito. E seu nome, qual é?
— “Ora, Osvaldinho, sou o Leodércio, filho de Chico Preá, lá do povoado Retrato, no Município de Miguel Alves. Continuas brincalhão. Sempre encenando para enganar os outros... Realmente não mudaste em nada, Osvaldinho...”.
— Sinto muito amigo, o Ambrósio lhe passou o número errado, vou desligar. Bom dia...
            Entrei no carro, acionei o motor e... O celular chamando novamente. No display, o mesmo número... Pensei: vou atender e mandar esse filho de Chico Preá pra PQP!
— “Olha Osvaldinho – falou timidamente – não intento te perturbar. Sei que és um empresário bem sucedido e muita gente deve te assediar pedindo favores... Mas não é o meu caso. Não sou rico, mas não estou precisando de favores; tão pouco de dinheiro... Só queria bater um papo, relembrar daqueles tempos difíceis, mas solidários, quando dividíamos o pouco entre todos. Só isso”!
                Ante a humildade demonstrada senti-me incapaz de brigar. Apenas repeti que não sou quem ele procura, encerrei a ligação e desliguei o celular.