João José de Andrade Ferraz
Simpático,
apesar de bronco e xucro; alienígena, inexperiente, “responsável” por negócio
alheio (então quase sem concorrentes), onde figurava como interessado. Entre
incontáveis erros e acertos mínimos, obteve apoio e tolerância na incipiente
atividade.
Dado
a frequentar ambientes considerados elegantes, era alvo de constantes e
impiedosas pilhérias que não alcançava: cordeiro indefeso, no meio de bestas,
incapaz de captar (ou reconhecer) evidente malícia nesses relacionamentos.
Arrostando tudo, conheceu pessoas e angariou “amizades”.
Nessa
roda viva, logo se viu enleado por bajulador (e insidioso mau-caráter),
tornando-se aplicado discípulo. Amparado nesse adjutório, fez carreira e se
tornou comensal de tuxauas locais: gente da pesada, importante.
Cavaleiro
de grana (muito) fácil, gostava de receber: oferecia, quase diariamente,
animadíssimas tertúlias etílico-gastronômicas. Estipulava dias (ou noites) e
locais para convívio interesseiro – por faixas de valoração que, do alto do seu
discernimento, o próprio atribuía: dias tais e tais eram destinados à presença
de figurinhas carimbados do primeiro time; nos intervalos para outros níveis,
tidos como inferiores.
Em
certa campanha resolveu apoiar, escancaradamente, candidato à sucessão – escorraçado
pelas urnas e pelo carisma do adversário. Como decorrência dessa postura
amargou ostracismo (correcional, disseram) que o deixou, literalmente, beijando
a lona: exatamente no ponto nevrálgico do corte sumário de linhas creditícias
oficiais, ilimitadas. E mais: execução imediata de débitos pendentes. Abalado, baixou
facho e tomou chá de sumiço.
Mas
nada disso tem a ver com o caso; são simples detalhes de época.
Num
desses entretenimentos chega, janota, um “convidado”. Trajando calça do mais
puro linho branco, assim como a camisa (fechada apenas com botões inferiores –
para exibir enormes corrente e medalha de ouro maciço), engomadíssimas; cinto e
chinelas café. Se tivesse composto, isto é, abotoado, ficaria numa elegância
sem paralelo.
Tentando
ser gaiato, cumprimentou. Ao notar sujeito aparentemente humilde – acompanhante
de primeira viagem – no meio daqueles expoentes, resolveu debochar. Não sabia,
porém, da presença de espírito invulgar, conhecida, do Zé.
Perdendo
excelente oportunidade de ficar calado, teve que escutar imediata e ferina observação
de quem pensava gozar. - Ó aí, gente!
Acabar dizem que consórcio não entrega... – referindo-se à roupa do
pretenso almofadinha.
Quem
entendeu, na hora, se abriu; outros nem notaram o chiste.
Tendo
– finalmente – percebido a ferroada, murchou: alegando outro compromisso, desapareceu.
Bem
feito.
*Do livro “Casos Lembrados”