Manoel Emílio Burlamaqui de Oliveira
Um
conceituado ortopedista atendeu a um caminhoneiro, vítima de um desastre em seu
caminhão, com tamanhas dedicação e competência, que seu paciente, completamente
restabelecido, sempre que passava por Teresina, visitava-o, trazendo-lhe
presentes, de agradecimento e de amizade...
Um
dia, chega ele no consultório de seu amigo médico para consultar-se. O médico,
constrangido, diz-lhe "desculpe, meu amigo, mas sua doença precisa de um
urologista, e eu sou um ortopedista!" Resposta: "não interessa, o
Senhor é médico e eu só me trato se for com o senhor”! Conhecendo uma cabeça
dura de longe, afinal, há quantos anos clinicava, retrucou: "pois baixe as
calças, sente, ali, naquele tamborete furado, que vou lhe examinar”...
Desconfiado, o bruto de um caminhoneiro, com mais de 90 kg, obedeceu ao amigo,
pois amigo, é amigo...
Quando
levou a dedada, estremeceu-se todo, mas aguentou calado! Aí, falou o médico,
"estou achando uma coisa muito estranha aqui dentro, que não sei explicar,
vou ser obrigado a chamar um especialista, meu amigo, para saber o que você, tem
e passar os remédios"... O negão arregalou os olhos, mas, não titubeou,
calado continuou...
Dito
e feito, chega o novo médico, especialista de renome, e vai, logo, calçando a
luva. E, tome dedada, dessa vez, vasculhando tudo o que seu dedo, comprido e
meio grosso, podia alcançar! - Obrigado, Fulano, por me chamar, esse, me
parece, é um caso médico raríssimo, e merece um comunicado dessa ocorrência aos
órgãos de saúde públicas federais e, possivelmente, à Organização Mundial da
Saúde, dado haver surgido no nordeste brasileiro. Chamarei Sicrano (outro
urologista de fama), para ouvir sua opinião, e redigirmos, juntos, esse
comunicado. E ligou o telefone, enquanto o pobre paciente nem água pedia...
Chega
o novo "provador", também de jaleco branco, (estavam em seus
consultórios) e o dedão enluvado, que, olhado, de esguelha, pelo sem calças,
parecia mais grosso que os outros, entrou onde devia, sem "tugido, nem
mungido" do paciente (e haja paciência...), a não ser um pequeno pulo,
para melhor acomodação naquele assento furado,
Realizada
a NOVA INSPEÇÃO, os doutores iniciaram uma conversa animada, momento em que
chegou um irmão do médico amigo do caminhoneiro, que, mesmo sendo advogado, não
relaxava uma camisa branca... A conversa animou mais ainda, até que o negão
falou grosso "ei, você aí, vem logo meter seu dedo no meu rabo, que isso
aqui é mermo do gunverno"!
Conto
esse "causo”‘ pra mostrar como o povo encarava o Governo, as amizades, o
respeito, a solidariedade, e, ainda hoje, em sua grande maioria, o fazem,
excluídos do processo educativo e do acesso ao conhecimento geral...